Após 23 anos de casamento, esposa convida marido para sair e descobre que ele tem vergonha dela 

O eco do aspirador de pó morreu no vasto silêncio da casa, uma casa que era mais uma exibição do que um lar. Vinte e três anos de casamento e, pela primeira vez em muito tempo, me vi parada no meio da sala, com o pano de limpeza na mão. O silêncio era tão denso que pude ouvir o zumbido das lâmpadas e o meu próprio coração batendo, pesado e cansado. Por algum motivo, virei-me e olhei para o espelho do corredor, um espelho oval com uma moldura dourada que refletia o tempo.

O que vi me chocou.

Não era a garota alegre e de olhos brilhantes da foto do casamento que ficava na prateleira ali perto, um quadro em que eu, ainda vestida de noiva, abraçava um homem que, em teoria, me amaria para sempre. Aquela garota tinha a pele luminosa, os olhos cheios de sonhos, um sorriso que iluminava o mundo. A mulher no espelho era uma sombra daquela garota. Uma mulher cansada e esgotada me encarava de volta, com olheiras profundas, rugas ao redor dos olhos que eram mais marcas de cansaço do que de riso. Aquele sorriso há muito tempo tinha desaparecido.

Onde foi que me perdi?

Essa pergunta me atingiu com a força de um soco. Minha vida se tornou uma rotina monótona: lavar, passar, limpar, cozinhar. Eu me anulei para servir a um marido que parecia me amar menos a cada ano. Um homem que voltava do trabalho e perguntava o que havia para o jantar, mas nunca perguntava como eu estava. Um homem que falava sobre o seu dia, mas nunca me perguntava sobre o meu. Eu estava lá, mas ele não me via.

A dor de perceber que eu havia desaparecido de mim mesma era insuportável. Eu sabia que algo precisava mudar. Não por ele, mas por mim. Eu precisava me reconectar comigo mesma.

Com o coração na garganta, esperei até que ele se sentasse na sua poltrona preferida, com o jornal aberto. Respirei fundo.

“Amor”, comecei, a voz trêmula. “Que tal se a gente saísse para jantar fora hoje? Pela primeira vez em muito tempo, nos arrumarmos, nos reconectarmos… apenas relaxarmos?”

Eu esperava um sorriso, talvez um “ótima ideia”. Eu não esperava a frieza no seu olhar. Ele abaixou o jornal, seus olhos azuis como gelo me analisando de cima a baixo. Minha esperança se desfez.

“Não vou a lugar nenhum com você”, ele disse, a voz sem emoção, como se estivesse a declarar um fato do clima.

Aquelas palavras me atingiram como pedras. Eu tentei me recompor. “Eu… acabei de terminar todas as tarefas domésticas. É por isso que estou assim”, tentei explicar, apontando para a minha roupa de casa e o meu cabelo bagunçado. Mas a dor era tão grande que as lágrimas vieram, quentes e incontroláveis.

Ele apenas me olhou, indiferente.

E então ele me deu o golpe final. Ele se levantou, jogou o jornal na mesa, e disse, com a voz cheia de desprezo:

“Quer a verdade? Tenho vergonha de você. Não posso te levar para sair.”

Com isso, ele se virou, pegou as chaves do carro e saiu. Eu só pude ouvir o som do motor a ligar e depois o silêncio novamente. Meu corpo ficou paralisado no meio da sala, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. E, naquele momento, eu entendi. Não era sobre a minha aparência, era sobre o seu desprezo. Eu não era mais a garota que ele queria, e ele não se importava em me dizer isso. Mas quando ele voltou para casa, a sua vida e a minha mudariam para sempre.

As horas seguintes foram um borrão. Fiquei sentada no chão da sala de estar, as lágrimas escorrendo e o meu corpo tremendo. A humilhação era tão grande que eu mal conseguia respirar. Mas, depois de horas de dor, algo mudou. A tristeza foi substituída por uma raiva fria. E essa raiva me deu forças. Eu tinha dois caminhos a seguir: desmoronar ou me reerguer. E eu escolhi me reerguer.

Peguei o meu celular e liguei para o meu melhor amigo, Rodrigo.

“Oi, Clara, tudo bem?”, ele perguntou.

“Não”, eu respondi, a voz embargada. “Não estou bem. Preciso de ajuda.”

Eu contei tudo a ele, sem detalhes. Ele me ouviu pacientemente e depois me disse: “O que você precisa?”

“Preciso mudar. Preciso de uma transformação, de uma nova vida”, eu disse, com um tom de voz que eu nunca usei antes.

“Ok”, ele disse, “Se vista. Estou indo para aí.”

Quando ele chegou, eu estava à sua espera, com o meu casaco mais velho, o meu cabelo bagunçado e os olhos inchados de tanto chorar. Mas, de alguma forma, eu me senti forte. Ele pegou na minha mão e me levou para o seu carro, sem dizer uma palavra.

A primeira paragem foi no salão de cabeleireiro. Eu olhei para mim no espelho e disse: “Eu quero uma nova aparência. Algo que me faça sentir como eu mesma de novo.” O cabeleireiro me olhou e disse: “Eu sei o que fazer.” E depois de horas, a minha nova aparência estava pronta. O meu cabelo, antes sem vida, agora estava com um corte moderno e uma cor nova, vibrante. Eu me olhei no espelho e sorri. Era a primeira vez que eu sorria em muito tempo.

Em seguida, fomos para o shopping. Eu não ia às compras há anos. A minha vida era uma série de roupas de casa velhas. Mas, naquele dia, eu me senti como uma princesa. Experimentei vestidos, calças, casacos, e me senti linda. A cada nova roupa, eu me sentia mais confiante. Eu me sentia mais viva.

No caminho para casa, parei em um estúdio de yoga. Eu nunca havia feito yoga, mas sempre quis. Eu me inscrevi para um curso intensivo de seis meses. A professora me olhou e disse: “O que te fez vir aqui?” “Estou a começar uma nova vida”, eu disse, sorrindo. Ela assentiu com um sorriso.

Quando Rodrigo me deixou em casa, eu me senti uma pessoa diferente. Eu ainda era a mesma mulher, mas o meu espírito havia mudado. Eu me senti forte, confiante, e pronta para o que viesse.

Quando ele chegou em casa, a sua vida mudaria para sempre.

A porta se abriu às duas da manhã. Ouvi o som das chaves e o silêncio do seu passo. Ele entrou na sala de estar, e as luzes estavam apagadas. Eu estava sentada no sofá, as pernas cruzadas, lendo um livro. A luz da lâmpada da sala de estar iluminava o meu rosto. Ele se aproximou.

“Onde você estava?”, ele perguntou, com a voz baixa e rouca.

“Na casa da minha mãe”, eu menti, “ajudando-a com as suas coisas.”

Ele parou. Ele notou algo diferente, mas não conseguia perceber o quê. O meu cabelo estava com um corte e uma cor nova, as minhas roupas eram novas, a minha postura era mais segura.

“Você está diferente”, ele disse, a voz cheia de incerteza.

“Sim”, eu disse, “estou. Mudei algumas coisas.”

Ele se aproximou e se sentou no sofá, perto de mim. “Eu queria pedir desculpa”, ele disse. “Eu não deveria ter dito o que eu disse. Estava com raiva.”

“Eu sei”, eu disse, “mas o que você disse me magoou. E me fez perceber que eu não me amava mais.”

Ele não respondeu, mas os seus olhos me olharam. Eu me senti poderosa. Eu me senti como se eu estivesse no controlo. A minha vida não era mais a sua. Era a minha.

Ele tentou me abraçar.

“Não”, eu disse, e me afastei.

“O quê?”, ele perguntou.

“Não sou a mesma mulher que você deixou aqui hoje mais cedo. Aquela mulher chorou no chão da sala de estar por horas. Ela se sentiu inútil. Ela sentiu que não era boa o suficiente. E você me deu a motivação para mudar. A sua crueldade me deu o poder para me levantar”, eu disse, a voz tremendo, mas o meu olhar era firme. “Você não me tem mais. A mulher que você conheceu morreu, e uma nova nasceu.”

Ele ficou em silêncio. Ele me olhou, confuso.

“Quem é você?”, ele perguntou.

“Eu sou a mulher que você não se atreveu a amar. Eu sou a mulher que você tentou humilhar. E eu sou a mulher que você não vai ter mais.”

Ele me olhou, chocado. “Clara, eu sinto muito.”

“Não”, eu disse. “Não sente. Você sente vergonha. Você não sente arrependimento.”

Ele ficou em silêncio novamente. Ele se levantou e foi para o seu quarto. Eu me deitei no sofá, e a minha cabeça estava cheia de pensamentos. Eu não sabia o que ia acontecer, mas eu sabia que a minha vida havia mudado para sempre. Eu me senti livre. Eu me senti eu mesma.

A manhã seguinte amanheceu com um ar de tensão na casa. Eu me levantei antes dele, fiz o meu yoga, e depois preparei um café da manhã para mim. Quando ele desceu as escadas, eu estava a comer. Ele me olhou, mas não disse nada. Eu o ignorei. O silêncio era pesado. Eu me levantei e disse:

“Preciso de ir ao trabalho.”

“O quê?”, ele perguntou, chocado. “Você vai trabalhar?”

“Sim”, eu disse. “Começo hoje. Estou de volta na minha antiga empresa, como gestora de marketing.”

“Mas… mas e a casa?”, ele perguntou.

“Acho que você pode arranjar uma forma de se virar”, eu disse. “Eu vou sair.”

Eu me vesti com uma das minhas novas roupas. Quando eu saí, eu me senti uma pessoa nova.

Ele ficou em silêncio por um longo tempo. Ele não podia acreditar no que estava a acontecer. A sua mulher, que ele pensou que fosse uma escrava do lar, tinha se transformado em uma pessoa de negócios.

Naquela noite, quando ele voltou, a casa estava vazia. A comida não estava pronta, a casa não estava limpa. Ele estava sozinho. A sua vida era um caos. Ele me ligou, mas eu não atendi.

Ele ligou novamente. Eu atendi.

“Onde você está?”, ele perguntou.

“Estou com a minha mãe”, eu disse. “Estou a jantar com ela. A minha mãe está feliz por me ver de novo.”

Ele ficou em silêncio. “Clara, eu sinto muito. Eu sei que eu fui um idiota.”

“Sim”, eu disse. “Você foi. E você me machucou. Mas eu não vou deixar você me machucar mais.”

Ele me implorou para voltar. Ele me prometeu que ia mudar. Ele me prometeu que ia ser um novo homem. Mas eu sabia que ele não ia. Ele não me amava. Ele amava a mulher que eu era antes. A mulher que ele humilhou.

Eu dei a ele a escolha. “Você pode me humilhar de novo, e eu vou te deixar. Ou você pode me amar, e eu vou voltar para casa. Mas você tem que me amar de verdade.”

Ele ficou em silêncio. Ele não podia me prometer que ia mudar.

E assim, eu me levantei e saí. Eu deixei a mulher que eu era para trás. Eu deixei a minha velha vida. Eu me senti uma nova mulher. Eu me senti livre. Eu me senti eu mesma. A minha nova vida estava apenas a começar.

Be the first to comment

Leave a Reply

Your email address will not be published.


*