
Meu marido me disse que passaria o dia no funeral de um amigo de infância… Horas depois, eu o peguei atrás de nossa casa de campo, queimando as evidências de uma vida da qual eu não sabia nada.
Meu nome é Élise, tenho 46 anos e acreditava que vinte e um anos de casamento representavam uma fortaleza inquebrável. Até o último sábado, quando meu mundo desabou.
Thane e eu nos conhecemos em uma pequena livraria quando eu tinha 25 anos. Um encontro casual, risadas compartilhadas tomando café e, um ano depois, um casamento simples e feliz. Construímos uma vida tranquila: dois filhos agora adultos, um lar acolhedor, um cachorro fiel. Nada de extraordinário, mas uma estabilidade reconfortante. Pelo menos, era o que eu pensava.
Certa noite, no mês passado, Thane anunciou em tom grave:
— “Tenho que ir para o norte neste fim de semana… é o funeral de um velho amigo do colégio, Cal.”
Eu nunca tinha ouvido falar desse Cal, mas acreditei na história dele. Cheguei a me oferecer para ir com ele. Ele recusou imediatamente, preferindo “ir sozinho”. Sua pressa me pareceu estranha, mas respeitei sua suposta dor.
Na manhã de sábado, ele saiu na chuva, com a mala mal arrumada. A casa parecia vazia sem ele. Decidi passar a tarde em nossa casa de campo, a quarenta e cinco minutos de distância, para cuidar do jardim. Mas, quando cheguei, meu coração gelou: o carro dele estava estacionado perto do galpão de ferramentas.
Chamei seu nome, procurei pela casa: nada. Então, andando pelos anexos, eu o vi. Ele estava derramando gasolina sobre uma pilha de objetos. Quando o chamei, ele pulou como um ladrão pego em flagrante.
— Élise? Você não deveria estar aqui!
— E você? Você não deveria estar num funeral! O que está fazendo?
Ele resmungou uma desculpa absurda sobre “queimar ervas daninhas”. Mas, antes que eu pudesse impedi-lo, ele riscou um fósforo. O fogo se inflamou. Enquanto eu corria, vi o que ele tentava reduzir a cinzas: fotografias, centenas de fotografias. Espalhadas pelo chão queimado

Algumas estavam intactas. Mostravam Thane de terno, ao lado de uma mulher vestida de noiva. Depois, segurando um bebê nos braços, com os mesmos olhos cinzentos que os dele. Outras fotos revelavam aniversários, férias, momentos em família… com outra mulher e uma criança. Meu marido, no centro de uma segunda vida.
Apaguei as chamas da melhor maneira que pude, com as mãos queimando e o peito esmagado pelo horror. Thane não disse nada. Finalmente, diante dos meus gritos, revelou a verdade:
nove anos. Uma mulher chamada Nora. Um filho, Finn. Moravam a duas horas de distância. Ele os via uma vez por mês, sob o pretexto de visitar o irmão. Nora e Finn haviam morrido duas semanas antes, vítimas de um acidente de carro.

Escutei, atordoada, como se um estranho vestisse o rosto do meu marido. Durante nove anos, ele viveu duas existências paralelas. Confessou que amava Nora… mas também me amava. Duas vidas, duas famílias, dois amores. E eu, reduzida à sombra da sua mentira.
Voltamos para casa separadamente. Lá em casa, ele jurou que ainda me amava, que queria “consertar”. Mas como se conserta uma traição de nove anos? Como ainda se acredita no homem que divide a cama com a gente, quando vejo o sorriso dele naquelas fotos roubadas de outra mulher?

Hoje, não sei se devo perdoar ou deixar tudo. Talvez um amor possa renascer das cinzas. Ou talvez eu deva finalmente me escolher.
Uma coisa é certa: nada mais será como antes.
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