A minha madrasta apareceu sem ser convidada na minha festa de aniversário e teve a lata de fazer o pedido mais absurdo que se possa imaginar!

Aos quinze anos, o meu mundo foi redefinido. Não por uma catástrofe ou um evento monumental, mas por um casamento. O meu pai, um homem que eu pensava conhecer, trouxe para a nossa vida Kathleen, uma mulher com um sorriso fixo e olhos que raramente mostravam calor. Com ela veio o seu filho, Benjamin, um rapaz de dezoito anos que parecia mais uma extensão da sua mãe do que uma pessoa por conta própria. Havia também uma filha, uma sombra, uma ausência que Kathleen mencionava com uma voz que se tornava gélida – uma filha que eu nunca conheci e que Benjamin nunca falava. A sua existência era um rumor na nossa própria casa, uma ferida invisível que, no entanto, infectava tudo.

A convivência com Benjamin era uma lição diária em restrição. Ele vivia de uma paleta de cores limitada: a cor de um hambúrguer, o amarelo pálido das batatas fritas, o laranja gorduroso do queijo derretido. A sua aversão a quase tudo era mítica, um campo minado de alimentos que ele não comia. Pizza, batatas fritas, hambúrgueres, e tacos de carne e queijo eram o seu universo culinário. Nada de frutas, nada de vegetais, nada de frango ou porco—apenas carne bovina. A lista de proibições crescia quando se considerava as suas alergias: amendoim e marisco, que Kathleen nos lembrou de forma exaustiva e repetitiva até que se tornasse um mantra. A vida com eles era como viver em uma gaiola de vidro, onde as paredes eram feitas de restrições dietéticas.

A minha vida tornou-se uma sombra da deles. As saídas em família? Apenas para estabelecimentos de fast-food que satisfizessem as suas necessidades. Eu costumava amar a diversidade, experimentar novos restaurantes, descobrir novos sabores. Agora, a simples sugestão de ir a um sítio diferente era recebida com um silêncio carregado, ou, pior ainda, com a expressão magoada de Kathleen, como se a minha ânsia por um prato de massa ou um pedaço de salmão fosse uma traição pessoal. Eu comecei a sair para almoçar com os meus amigos em segredo, saboreando cada pedaço de comida que eu não podia comer em casa. Mas mesmo esses momentos de liberdade eram manchados pela culpa e pelo medo de ser descoberta. Eu sentia-me como um animal enjaulado, e a jaula era feita de carne e queijo.

A casa também se tornou um campo de batalha. O armário da cozinha era dividido em duas seções: o “território” de Benjamin e Kathleen, cheio de salgadinhos embalados, molhos e carne congelada, e o meu pequeno “território”, que continha frutas e vegetais que eu comia em silêncio. Era uma metáfora dolorosa para as nossas vidas: nós não éramos uma família, éramos duas unidades separadas a coexistir em um mesmo espaço. O meu pai, que costumava ser o centro da nossa família, tornou-se um mediador passivo, tentando acalmar a situação e fazendo vista grossa a essa tensão crescente. Eu via o cansaço nos seus olhos, e isso fazia-me sentir ainda mais miserável.

A minha mãe, que vivia na cidade, foi a minha salvação. Ela via o que estava a acontecer. As nossas conversas telefónicas eram a minha terapia, e ela sempre me encorajava a ser forte. “Não deixes que eles te definam,” ela dizia. “Tu és mais do que eles podem ver.” Ela sabia sobre a filha que eu nunca conheci. Ela disse-me que, antes do casamento, o meu pai tinha-lhe contado que a filha de Kathleen tinha uma doença, uma que exigia cuidado constante. Mas era uma doença que ele nunca tinha mencionado em casa, e o mistério que a rodeava tornava-a ainda mais sinistra. O silêncio sobre a filha era mais alto do que qualquer outra coisa na casa. Era um silêncio pesado, o de uma existência solitária em uma vila remota.

Benjamin era um enigma. Ele não falava muito, e quando falava, era para pedir a sua comida. A sua presença na casa era uma sombra. Ele passava os dias no seu quarto, com a porta fechada, e a única coisa que eu ouvia era o som de jogos de vídeo e, ocasionalmente, uma risada estranha e fria. Ele não tinha amigos, não saía, não tinha vida. Eu sentia que ele era tão prisioneiro quanto eu, mas por escolha própria. Ou, talvez, por medo. O medo era uma coisa tangível na nossa casa, uma névoa que pairava sobre nós.

Um dia, em uma busca por uma caneta, eu abri o armário de material de escritório de Kathleen. E lá, no fundo de uma gaveta, eu vi. Era um pequeno álbum de fotografias, feito à mão, com uma capa de tecido e costuras desfiadas. A minha curiosidade venceu o meu medo. Eu o peguei, e o meu coração começou a bater forte. As primeiras fotografias eram de um bebé, uma menina de cabelo loiro e olhos grandes e curiosos. As fotografias seguintes mostravam-na a crescer. Ela era uma rapariga radiante, com um sorriso que iluminava a página. Havia fotografias dela a brincar com um rapaz que eu só podia assumir ser Benjamin, mas a sua cara estava embaçada, como se a fotografia tivesse sido danificada.

As fotografias paravam abruptamente quando a menina tinha cerca de doze anos. A última fotografia mostrava-a deitada em uma cama de hospital, pálida e com tubos a sair de seu nariz. Havia uma nota manuscrita no verso: “O meu pequeno anjo. Para sempre no meu coração.” Eu senti um arrepio. Uma onda de tristeza e medo me atingiu. Eu fechei o álbum de fotografias, e o meu coração estava a bater a mil por hora. Eu ouvi o som de uma porta a abrir. Eu coloquei o álbum de fotografias de volta no seu lugar e saí do escritório.

Eu não pude parar de pensar na filha de Kathleen. Qual era a doença? Ela estava morta? Porque é que ninguém falava sobre ela? A minha curiosidade era insaciável. Eu tentei procurar o nome dela, mas eu não sabia o seu nome. Eu tentei encontrar a sua história, mas ela era um fantasma. Eu decidi que eu tinha que descobrir a verdade. Eu comecei a procurar pistas. Eu ouvi as conversas de Kathleen com os seus amigos, mas ela nunca falava sobre a sua filha. Ela falava sobre o seu filho, o seu marido, mas a sua filha era um tópico proibido.

Eu perguntei ao meu pai, e ele ficou calado. Ele disse-me para não me preocupar, que era um assunto de família. Mas a sua voz estava cheia de tristeza, e eu sabia que ele estava a esconder algo. Eu senti que ele era um prisioneiro, tal como eu, mas ele tinha escolhido a sua prisão.

O meu aniversário de dezoito anos era uma luz no final do túnel. Eu queria um jantar com a minha mãe, o meu noivo, e os meus amigos, para celebrar a minha liberdade. Era um evento que eu tinha sonhado por anos. Eu ia poder comer o que eu queria, e eu ia poder ser eu mesma.

Eu chamei o meu pai. A sua voz estava cheia de tristeza.

“Eu gostaria de ir, querida,” ele disse. “Eu quero ir com a Kathleen e o Benjamin.”

O meu coração parou. Eu senti um frio na minha espinha. Eu sabia o que isso significava. Significava fast-food, restrição, e a presença opressiva de Kathleen.

“Pai,” eu disse. “Eu quero que seja um jantar para mim, para a minha mãe, e para os meus amigos. Eu não quero a pressão das restrições dietéticas de Kathleen e Benjamin.”

O meu pai ficou calado. Eu ouvi o som da sua respiração. A sua voz estava cheia de tristeza.

“Eu entendo,” ele disse. “Eu vou te parabenizar depois.”

Eu senti uma onda de alívio. Mas também senti uma pontada de culpa. Eu não queria que ele se sentisse excluído. Mas eu sabia que eu tinha que fazer isso. Pela minha sanidade, pela minha liberdade. O meu noivo, um homem de coração, me abraçou e disse que eu fiz a coisa certa. Ele me disse que eu não tinha que me sentir culpada, que eu tinha que lutar pela minha felicidade.

O dia do meu aniversário chegou. Nós fomos a um restaurante italiano, e o cheiro de alho e molho de tomate estava a encher o ar. Eu pedi uma massa com camarão, um prato que eu não comia há anos. Eu senti-me uma nova mulher. Eu me senti forte, eu me senti poderosa. Eu me senti como se estivesse a lutar contra um inimigo invisível. Eu não ia deixar que a crueldade da Kathleen me destruísse. Eu ia lutar.

A noite estava a correr bem. A minha mãe estava a rir, o meu noivo estava a sorrir, e os meus amigos estavam a se divertir. Eu estava a rir, e eu estava a sorrir. A vida era boa. Eu senti-me livre. Mas a minha paz foi quebrada abruptamente.

O restaurante estava cheio, e a porta abriu-se com um barulho. Todos os olhos se viraram para a porta. E lá, no meio da porta, estava Kathleen. A sua cara estava branca, os seus olhos estavam estreitos. Ela parecia um animal enjaulado, e eu sabia que eu tinha-a libertado. Ela olhou para o meu pai, e a sua cara estava cheia de tristeza. Ele estava a olhar para ela, e a sua cara estava cheia de culpa.

Ela andou até à nossa mesa, e todos os olhos estavam nela. Eu senti o meu coração a bater forte. O meu noivo me pegou na mão. Ele me deu um olhar que dizia: “Estou aqui para ti.”

Ela parou em frente à mesa. A sua voz era um sussurro.

“Tu, criatura ingrata!”, ela disse. “Responde apenas a UMA PERGUNTA.”

O restaurante inteiro parecia ter parado de respirar. O som de garfos a bater em pratos parou. A música de fundo parecia ter desaparecido. Os olhos de todos estavam em nós. Eu senti o meu coração a bater a mil por hora. As minhas mãos estavam a tremer. O meu noivo me segurou com mais força.

Os olhos de Kathleen estavam fixos nos meus. Eles não tinham brilho, não tinham vida. Eles eram dois buracos negros, e eles estavam a sugar a minha alma. A sua voz era um sussurro, mas era um sussurro que me assombrava.

“Responde-me,” ela disse. “Tu, uma criatura ingrata. A única que eu sempre tentei proteger. Tu, a única que sempre me desprezou. Responde-me. Sabias que a minha filha tinha alergia a marisco?”

O mundo parou. Eu olhei para a minha massa com camarão. Eu olhei para o meu noivo. Eu olhei para a minha mãe. Eu olhei para os meus amigos. Os seus olhos estavam cheios de confusão. Eu olhei para o meu pai. A sua cara estava pálida. Ele estava a tremer.

O meu coração parou. A minha mente estava a tentar entender. Eu me senti traída, eu me senti humilhada. Eu me senti como se estivesse a lutar contra um inimigo invisível. Eu não ia deixar que a crueldade dela me destruísse. Eu ia lutar.

A minha vida era uma mentira. A minha vida era um caos. Mas eu me senti livre. Eu me senti como se estivesse a voar.

Eu comecei a trabalhar no meu bistrô, e eu me senti uma nova mulher. Eu me senti forte, eu me senti poderosa. Eu me senti como se estivesse a lutar contra um inimigo invisível. Eu não ia deixar que a crueldade dela me destruísse. Eu ia lutar.

Eu me mudei para a minha própria casa, e eu me senti livre. Eu me senti uma nova mulher. Eu me senti eu mesma. A minha nova vida estava apenas a começar.

Eu me encontrei com os meus amigos

Eu me senti uma nova mulher. Eu me senti forte, eu me senti poderosa. Eu me senti como se estivesse a lutar contra um inimigo invisível. Eu não ia deixar que a crueldade dela me destruísse. Eu ia lutar.

A minha nova vida estava apenas a começar.

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