
Estávamos esperando há mais de uma hora.
Suando. Inquieta. Tentando manter os pequenos calmos com giz de calçada e suco de caixinha. A mãe estava sentada em sua cadeira dobrável, conversando com a Sra. Alvarez como se aquele fosse apenas mais um dia ensolarado de agosto.
Eu deveria estar observando Marcus.
Então eu pisquei e ele se foi.
Meu coração disparou. Meu slushie também.
Comecei a gritar o nome dele, correndo para cima e para baixo pela rua lotada, o pânico me invadindo a cada segundo. Cada carrinho de bebê que eu passava, cada cabecinha de cachinhos — eu olhava para todos eles, esperançosa. Com medo.
E então, eu o vi.
Bem perto do meio-fio, em frente à Gonzalez Auto Parts.

Um policial se ajoelhou ao lado dele, enrolando cuidadosamente algo em seu pulso.
Marcus parecia… calmo. Calmo demais. Como se tudo aquilo fosse rotina. Seus olhos estavam fixos na pequena pulseira que o policial acabara de lhe dar.
O policial me viu e assentiu. “Ele está bem. Encontrei-o tentando encontrar o caminho de volta.”
O alívio me atingiu de repente. Quase desmaiei.
Corri em direção a eles, sem fôlego de gratidão, pronto para agradecer ao oficial, quando ele acrescentou algo que me fez parar:
“Na verdade… seu irmão já me disse algo que acho que você deveria ouvir.”
Fiquei paralisada. “O que você quer dizer?”
O policial olhou de Marcus para mim. “Ele disse que não estava realmente perdido. Estava procurando o pai.”
Fiquei ali parado.
“Nosso pai?” perguntei, minha voz quase inaudível.
Marcus sorriu para mim, aquele sorriso inocente e alheio de sempre.
“Você disse que ele poderia vir ao desfile este ano”, disse ele simplesmente. “Então pensei em dar uma olhada. Você estava ocupado.”
“Eu não disse que ele estaria aqui”, sussurrei.
“Você disse que ele poderia “, insistiu Marcus, impassível. “Então, resolvi verificar.”
O policial se levantou e me entregou um pedaço de papel dobrado. “Ele fez isso. Acho que é por isso que ele não ficou com medo.”
Eu abri.
Um desenho — bonecos de giz de cera. Um alto. Um baixo. Um com cabelo cacheado — era eu. Um de óculos.
Eles estavam de mãos dadas.
Acima deles, em giz de cera vermelho irregular e em negrito, estavam as palavras:
ENCONTRE O PAI
Um pequeno coração vermelho flutuava ao lado dele.

Marcus deu de ombros. “Eu ia perguntar para as pessoas. Eu tinha uma foto minha.”
Eu não sabia se chorava, se o abraçava ou se ambos.
Então fiz a única coisa que fazia sentido.
Caí de joelhos e o puxei para meus braços.
“Desculpe”, sussurrei. “Não sabia que você ainda pensava nele.”
“Eu sempre penso nele”, disse Marcus suavemente.
Um desenho. Uma pergunta. Uma porta que eu pensava estar fechada.
Mais tarde naquela noite, depois que Marcus adormeceu, sentei-me na cama com aquele desenho nas mãos.
Nosso pai foi embora quando eu tinha doze anos. Sem despedidas, sem bilhetes, sem cartões de aniversário. Num dia ele estava lá, no outro — sumiu. Como um truque de mágica sem nenhuma revelação.
Já faz tempo que parei de me perguntar o porquê.
Mas claramente, Marcus não o fez.
Ele nunca soube das partes mais bagunçadas. Nunca viu a mãe chorando na cozinha. Nunca olhou a caixa de correio todos os dias esperando por algo que nunca chegava.
Para ele, o pai não era um vilão. Ele era um mistério. Uma possibilidade.
E de repente… isso importava.

Na manhã seguinte, fiz algo que não fazia há quase uma década.
Pesquisei sobre ele no Google.
Algumas buscas depois, encontrei um perfil no Facebook. Quase nada lá — nenhuma foto, nenhum amigo listado. Apenas um nome e uma publicação pública de três meses atrás:
“Começando do zero. De volta à cidade. Hora de consertar as coisas.”
Teve duas curtidas.
Ele estava de volta ?
Fiquei um bom tempo olhando para o teclado. Pensei em contar para a mamãe, mas eu já sabia o que ela diria.
“Não abra essa porta novamente.”
Mas talvez Marcus merecesse mais que silêncio.
Então digitei uma linha e cliquei em enviar:
“Olá. Aqui é a Lia. Sou sua filha.”
Ele respondeu uma hora depois.
Lia, eu não mereço saber de você, mas fico feliz que tenha entrado em contato. Estou morando na região de novo. Se você quiser me encontrar, eu adoraria. Sem pressão. Me desculpe… por tudo.
Nós nos conhecemos em um restaurante na 5ª Rua.
Cabines vermelhas desbotadas. Uma jukebox empoeirada no canto. O tipo de lugar onde o tempo parece parar.
Ele parecia mais velho. Cansado. Fios grisalhos se espalhavam por sua barba. Mas seus olhos… aqueles não haviam mudado.
“Oi”, ele disse, como se não acreditasse que eu ficaria.
“Olá”, respondi.
Ele não deu desculpas. Ele não tentou reescrever o passado.
“Eu errei”, admitiu ele. “Achei que vocês estariam melhor sem mim. E então o tempo passou. E eu não sabia como consertar.”
Contei a ele sobre Marcus.
Sobre o desfile.
Sobre o desenho.
Suas mãos tremiam enquanto eu falava.
“Acho que ele quer te conhecer”, eu disse baixinho. “Mas não sei como a mamãe vai reagir.”
“Não estou aqui para causar problemas”, disse ele, com o olhar firme. “Se tudo o que eu tiver for uma chance de pedir desculpas… eu aproveito.”
Mas Marcus precisava de mais do que um pedido de desculpas.
Ele precisava de uma presença. Uma promessa. Uma pessoa real, não um sonho de giz de cera.

Mamãe não queria nada disso — no começo.
“Ele não tem o direito”, ela retrucou. “Ele foi embora .”
“Ele não está pedindo nada”, eu disse gentilmente. “Só uma chance. Para Marcus.”
Houve um silêncio longo e quebradiço.
Então, calmamente, ela disse:
“Então eu o encontro. Primeiro.”
E ela fez isso.
Eles se conheceram em um café no centro da cidade.
Não estava caloroso. Mas era civilizado.
Quando ela voltou, com uma expressão ilegível, ela olhou para Marcus e disse:
“Ele pode vir aqui. Domingo. Para jantar.”
O jantar foi estranho… até que não foi mais.
Papai — sim, começamos a chamá-lo assim de novo, aos poucos — ensinou Marcus a dobrar um avião de papel com nariz pontudo. Ele voou de verdade . Tipo, pela sala inteira.
Marcus se iluminou.
Semana após semana, ele continuava aparecendo.
Sem promessas. Apenas presença.
Ele foi buscar Marcus na escola quando a mãe teve enxaqueca.
Ele veio à minha competição de atletismo com uma placa ridícula que dizia “VAI LIA” — foi constrangedor, no melhor sentido.
Ele ficou.
E então, uma noite, três meses depois, ele perguntou algo simples.
“Se a sua mãe concordar… eu gostaria de ser o contato de emergência do Marcus. E o seu também.”
Não hesitei.
“Eu gostaria disso”, eu disse.
Segundas chances nem sempre vêm em voz alta.
Às vezes, eles vêm silenciosamente, em meio à multidão do desfile.
Com um desenho de giz de cera.
Um pequeno coração vermelho.
Um irmãozinho teimoso que acreditava que alguém iria aparecer.
E alguém fez isso.
As pessoas erram. Elas ficam com medo. Elas vão embora.
Mas às vezes… eles voltam.
E quando isso acontecer, talvez — só talvez — possamos abrir espaço para eles novamente.
Não perfeitamente. Não de uma vez.
Mas com o tempo. Com a verdade.
Com aviões de papel e perdão.
Nós não reescrevemos o passado.
Nós construímos algo novo.
E tudo começou com um desenho, uma pergunta…
E um garotinho que ainda acreditava em segundas chances.
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Esta obra é inspirada em eventos e pessoas reais, mas foi ficcionalizada para fins criativos. Nomes, personagens e detalhes foram alterados para proteger a privacidade e enriquecer a narrativa. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, ou eventos reais é mera coincidência e não é intencional do autor.
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