
Na vida de todos, chega um momento em que é preciso encarar a verdade. Aquele instante em que tudo o que você construiu pacientemente desmorona diante dos olhos de todos. Para mim, aquele momento foi uma noite que deveria ter sido uma celebração: a recepção em homenagem ao sucesso do meu marido.
Por muito tempo, fiquei em silêncio. Por muito tempo, vivi à sua sombra, sorrindo quando ele queria chorar, apoiando-o mesmo quando não tinha forças. Ele sempre repetia que sem ele eu não seria nada, que meu único lugar era como “sua esposa”. Eu tentava provar o contrário, mas sempre ouvia a mesma frase: “Fique onde está. Você é apenas minha esposa.”
Naquela noite, tudo parecia igual. Alejandro, meu marido, havia reunido seus sócios, colegas e amigos em um restaurante elegante em Madri para comemorar o aniversário de sua empresa. Convidados, copos erguidos, risadas. Ele era o centro das atenções, deliciando-se com cada elogio. Eu, ao seu lado, uma figura decorativa destinada apenas a sorrir.
Em dado momento, ele se levantou e começou um brinde:
“Obrigada a todos pelo apoio. Embora, pensando bem, este sucesso seja mérito meu. Só eu o alcancei. E você, minha querida…” — ele me olhou com um sorriso irônico — “…talvez agora você entenda que chegou a hora de encontrar um emprego de verdade e parar de se apegar a mim. A esposa de um homem de sucesso deve ser digna, não apenas uma bela capa.”
Risadas constrangedoras ecoaram pela sala. Alguns desviaram o olhar. Mas Alejandro não parou:
Eu sempre disse que um casamento é como um investimento. Mas às vezes, investimentos, como nos negócios, não compensam. Talvez seja hora de reavaliar as coisas…
Naquele momento, algo dentro de mim estalou. Não consegui mais ficar quieta.
Levantei-me. Meu coração batia como um tambor. E proferi palavras das quais jamais me arrependerei. Estava cansado da humilhação deles.
— E agora, já que estamos falando da verdade… Caros convidados, vocês admiram esse homem, mas não sabem o que acontece a portas fechadas. Sabem o que ele disse sobre seu sócio, a quem acabou de abraçar? “Um idiota, um ingênuo, que sem mim nem conseguiria imprimir cartões de visita.”
Ou sobre você”, acenei para seu maior cliente, “Um velho bode que tem dinheiro, mas não tem cérebro. O principal é sorrir e acenar.”
Virei-me para os outros:
— E sobre seus funcionários, ele disse que “os mantém na rédea curta” e que se alguém “tentar se mexer, eu vou esmagá-los”.
Houve silêncio na sala. Ninguém sorria. Nem mesmo aquele que normalmente ri mais alto.
E de repente o maior cliente do meu marido se levantou da mesa, foi até ele e disse calmamente, quase friamente:
— O contrato foi cancelado. Eu não trabalho com canalhas.
Outro o seguiu. E outro. As pessoas começaram a se levantar, chegando, dizendo que estavam encerrando sua cooperação. Alguém saiu silenciosamente da sala.
E ele ficou ali, confuso, com o copo abaixado na mão. Pela primeira vez na vida, não sabia o que dizer.
E eu simplesmente peguei minha bolsa e fui embora. De cabeça erguida. Eu não era mais uma sombra.
E você sabe, eu não me arrependi nem por um segundo.
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