
Durante meses, os alunos passavam apressados pelo homem silencioso e sem-teto em frente à escola de música, sem jamais imaginar quem ele fora ou o que havia perdido. Apenas um professor parou o suficiente para perceber a verdade em seus olhos e o talento enterrado sob anos de silêncio. O que aconteceu quando ele finalmente interveio?
Anúncio
Um amigo meu, Leo, é um professor absurdamente talentoso na universidade de música da nossa cidade. Ele é o tipo de cara que fica até tarde para dar aulas particulares a alunos que não têm condições de pagar e que luta por talentos discretos e subestimados.
Ele me contou uma história recentemente que mudou minha perspectiva sobre segundas chances. Ele jura que foi o “milagre acidental” mais incrível do qual já participou.

Um homem sorrindo | Fonte: Midjourney
Durante meses, Leo vira o mesmo sem-teto em frente à entrada principal da universidade. O homem aparentava ter quase cinquenta anos, com uma barba grisalha emaranhada, um casaco de inverno rasgado, remendado com alfinetes de segurança, e luvas sem dedos que deixavam à mostra a pele vermelha e rachada. Ele estava sentado em uma caixa de papelão amassada perto dos degraus, com as costas encostadas na parede de tijolos.
Anúncio
Ele nunca implorou de forma agressiva. Nunca chamou os transeuntes nem chacoalhou uma xícara. Ele simplesmente ficou sentado ali com um pequeno cartaz de papelão apoiado nos joelhos.
As palavras foram escritas em letras de forma cuidadosas com um marcador preto: “Costumava brincar. Ainda sonho em brincar.”

Um homem sem-teto | Fonte: Pexels
O que chamou a atenção de Leo não foi a placa em si. Foi o jeito como o homem observava os alunos. Não com amargura ou inveja, mas com algo mais suave. Algo que parecia um orgulho contido. Como um pai torcendo silenciosamente da última fileira de um recital para o qual não foi convidado.
Anúncio
Quando os alunos subiam as escadas carregando os estojos dos instrumentos, os olhos do homem os seguiam, demorando-se nas formas das bolsas de guitarra e dos estojos de saxofone, como se ele estivesse se lembrando de algo precioso que havia perdido.

Um close dos olhos de um homem | Fonte: Midjourney
Leo o observava todas as manhãs durante semanas. Acenava com a cabeça ao passar, às vezes deixando algumas notas de um dólar na xícara de café ao lado do homem. Mas nunca parava. Até uma tarde gelada no final de novembro, quando o vento cortava as ruas como vidro quebrado.
Leo estava saindo do campus depois de um longo dia de aulas seguidas. Seus ombros doíam e ele já estava pensando no jantar. Mas, ao chegar aos degraus, viu o homem tremendo violentamente, com as mãos debaixo das axilas e os lábios levemente azulados.
Anúncio
Sem pensar duas vezes, Leo se virou e voltou para dentro do prédio. Comprou um café quente na máquina de venda automática perto do salão de estudantes e o levou para fora.

Uma xícara de café | Fonte: Pexels
“Aqui está”, disse Leo, agachando-se ao lado do homem. “Não é um café excelente, mas está quente.”
O homem ergueu o olhar, surpreso. Seus olhos eram azul-claros e lacrimejantes, com as bordas vermelhas por causa do frio. “Obrigado”, disse ele baixinho, envolvendo a xícara com as mãos como se fosse algo sagrado.
Anúncio
Leo hesitou, depois apontou para a placa. “Você realmente jogou?”
O homem assentiu lentamente, com os olhos brilhando. “Guitarra de jazz. Vinte anos atrás. Antes de eu perder tudo.”
“O que aconteceu?” perguntou Leo, sentando-se no degrau ao lado dele.

Um homem | Fonte: Midjourney
O homem tomou um gole de café, com as mãos ainda tremendo. “Eu costumava tocar pela cidade. Clubes pequenos, recepções de casamento e noites de microfone aberto. Nada sofisticado, mas era meu, sabe? Sonhava em dar aulas um dia. Talvez gravar um álbum.” Ele sorriu levemente, como se a lembrança doesse. “Aí fiquei doente. Pneumonia que piorou. Acabei no hospital por três semanas. Sem plano de saúde. As contas chegaram e eu não consegui pagar. Perdi meu apartamento. Minha esposa me deixou. Levou nossa filha com ela. Não posso culpá-la.”
Anúncio

Um homem olhando para baixo | Fonte: Midjourney
Leo escutou, com o peito apertando.
“Fiquei deprimido”, continuou o homem. “Não conseguia manter um emprego. Parei de ligar para os amigos. Eles pararam de me ligar. No fim, tive que penhorar o violão só para comer. Isso foi há 10 anos.” Ele olhou para as mãos, flexionando os dedos rígidos. “Nem sei se ainda consigo tocar. Mas sonho com isso. Todas as noites.”
Naquela noite, Leo voltou para casa com a história do homem ecoando em sua cabeça. Ele não conseguia se livrar dela. Porque não fazia muito tempo, seu próprio caminho quase havia se rompido também.
Anúncio

Um homem olhando pela janela | Fonte: Midjourney
Ele havia abandonado a mesma universidade quando sua mãe adoeceu com câncer. Passou três anos trabalhando em armazéns, na construção civil e em qualquer emprego que aparecesse para pagar as contas médicas dela. Seu saxofone acumulava poeira no armário. Ele via seus sonhos se desvanecerem como fotografias antigas expostas ao sol.
A única diferença entre ele e o homem do lado de fora do prédio era um sofá para dormir e pessoas que não desistiram dele. Sua mãe sobreviveu. Um antigo professor o localizou e ofereceu-lhe uma bolsa de estudos para que ele concluísse a graduação. Ele teve sorte.
Anúncio
Mas e as pessoas que não fizeram isso?
Naquela noite, Leo tomou uma decisão. Ele não sabia se daria certo, mas precisava tentar.

Um homem em pé dentro de sua casa | Fonte: Pexels
Na manhã seguinte, Leo entrou na sala dos professores com um plano que vinha amadurecendo a noite toda. Encontrou a Dra. Patricia, chefe do departamento, sentada à sua mesa, rodeada por pilhas de partituras e relatórios orçamentários.
“Patricia”, disse Leo, fechando a porta atrás de si. “Preciso falar com você sobre algo.”
Anúncio
Ela ergueu os olhos por cima dos óculos de leitura. “Se isso tem a ver com o novo horário da sala de ensaio, Leo, eu já te disse—”
“Não se trata disso”, interrompeu Leo. “Há um homem que fica sentado em frente à entrada principal todos os dias. Ele é um sem-teto. Ele costumava ser guitarrista de jazz.”

Um homem sem-teto | Fonte: Midjourney
Patrícia pousou a caneta, com uma expressão cautelosa. “Está bem.”
“Ele ainda sonha em tocar”, continuou Leo. “Falei com ele ontem. Ele tinha uma carreira, uma vida, e tudo desmoronou por causa de dívidas médicas e azar. Ele está sentado do lado de fora deste prédio há meses, observando os alunos, relembrando o que costumava ter.” Leo se inclinou para a frente, com a voz urgente. “Quero trazê-lo para dentro. Deixá-lo assistir a um ensaio. Ou talvez até tocar.”
Anúncio
Patrícia suspirou e massageou as têmporas. “Leo, eu entendo que você queira ajudar, mas não podemos simplesmente deixar estranhos da rua entrarem no prédio.”

Uma mulher sentada em uma escola | Fonte: Midjourney
“Por que não?”
“Responsabilidade. Segurança. Seguro. Somos uma instituição, não um abrigo.”
“Também somos um lugar que imprime ‘A Música Cura’ em todos os folhetos”, disse Leo, com a voz mais áspera do que pretendia.
O maxilar de Patricia se contraiu. “Isso não é justo.”
Anúncio
“Não é mesmo?” Leo se levantou, andando de um lado para o outro. “Ensinamos aos alunos que a música tem o poder de mudar vidas. Mas quando alguém que realmente precisa dessa mudança aparece à nossa porta, nós o rejeitamos por causa da burocracia?”
“Não é tão simples assim”, disse Patricia. “E se algo acontecer? E se ele for instável? E se ele causar algum transtorno?”

Um professor | Fonte: Midjourney
“Então assumirei total responsabilidade”, disse Leo. “Ficarei com ele o tempo todo. Se algo der errado, a culpa será minha.”
Anúncio
Patrícia olhou para ele por um longo momento, depois balançou a cabeça. “Não posso aprovar isso, Leo. Sinto muito.”
Leo saiu do escritório sentindo-se derrotado, mas não o suficiente para desistir.
Dois dias antes do Dia de Ação de Graças, ele apareceu no lugar de costume do homem com uma mochila e um sorriso nervoso. O homem olhou para cima, surpreso ao vê-lo novamente.
“Eu nunca perguntei seu nome”, disse Leo.
“Harlan”, disse o homem em voz baixa.

Um homem sem-teto sentado do lado de fora de um prédio | Fonte: Midjourney
Anúncio
“Harlan.” Leo colocou a mochila no chão. “Tenho uma ideia maluca. Você pode dizer não, e eu não vou me ofender. Mas acho que você deveria me ouvir.”
Harlan franziu a testa, confuso.
Leo abriu o zíper da mala. Dentro havia roupas limpas, um suéter escuro e um blazer velho que Leo havia tirado do fundo do armário. “Há um conjunto de jazz ensaiando para o concerto beneficente de Ação de Graças daqui a dois dias. Quero que você toque com eles.”
Os olhos de Harlan se arregalaram. “O quê? Não. Eu não posso. Eu nem tenho um violão.”

Um close dos olhos de um homem | Fonte: Midjourney
Anúncio
“Vou pegar um emprestado da universidade”, disse Leo. “E consegui um lugar para você tomar banho em um abrigo aqui perto. Tem um barbeiro que me deve um favor. Ele vai aparar sua barba.” Leo se agachou, encarando Harlan. “Eu sei que você está com medo. Mas e se você ainda puder jogar? E se tudo o que você precisar for uma chance?”
As mãos de Harlan tremiam. “E se eu não conseguir mais? E se eu tiver esquecido tudo?”
“Então nós sabemos”, disse Leo suavemente. “Mas e se você não souber?”

Um homem sorrindo | Fonte: Midjourney
Anúncio
Harlan olhou fixamente para as roupas na sacola, depois ergueu os olhos para Leo com lágrimas escorrendo pelo rosto. “Por que você está fazendo isso?”
“Porque alguém já fez isso por mim uma vez”, disse Leo. “E eu estava esperando uma oportunidade para retribuir.”
No dia seguinte, Leo buscou Harlan no abrigo. A transformação foi impressionante. Sob a sujeira e a barba emaranhada, Harlan parecia alguém que deveria estar em uma sala de aula, não na calçada. Seus cabelos grisalhos estavam bem aparados, seu rosto barbeado. O blazer lhe caía quase perfeitamente.
“Não me reconheço”, disse Harlan, encarando seu reflexo na vitrine de uma loja enquanto caminhavam em direção à universidade.

Um homem de óculos | Fonte: Midjourney
Anúncio
“Você tem cara de músico”, disse Leo.
Ao se aproximarem do prédio, Harlan parou de andar. “Não consigo fazer isso. E se eles rirem de mim?”
“Eles não vão”, disse Leo. “Mas mesmo que façam, você saberá que tentou. Isso é mais do que a maioria das pessoas pode dizer.”
Harlan respirou fundo, com a voz trêmula, e assentiu com a cabeça.
O grupo de jazz já estava se aquecendo quando Leo e Harlan entraram na sala de ensaio. O cômodo era amplo e iluminado, com pé-direito alto e fileiras de cadeiras dispostas em semicírculo. Os alunos conversavam e afinavam seus instrumentos, suas vozes ecoando pelas paredes.

Exposição de guitarras | Fonte: Pexels
Anúncio
Alguns alunos se viraram para olhar quando viram Leo entrar com um estranho. O professor Miles, instrutor de jazz, ergueu os olhos de sua estante de partituras, com as sobrancelhas arqueadas.
“Leo”, disse o professor Miles. “O que está acontecendo?”
Antes que Leo pudesse responder, a Dra. Patricia entrou na sala. Seus braços estavam cruzados e sua expressão era severa.
“Este é o Harlan”, disse Leo, com a voz firme apesar da forte dor no peito. “Ele costumava tocar guitarra de jazz. Ele está sentado do lado de fora deste prédio há meses, nos observando, sonhando em tocar novamente. Estou pedindo que vocês deem a ele uma música. Só uma. Se ele não for bom, eu mesmo o acompanharei até a saída.”

Um close dos olhos de um homem | Fonte: Unsplash
Anúncio
A sala ficou em silêncio. Os alunos trocaram olhares. O professor Miles parecia incerto.
Patrícia deu um passo à frente. “Leo, nós já conversamos sobre isso.”
“Eu sei”, disse Leo. “Mas eu não conseguia deixar isso para lá.”
Houve um longo e tenso silêncio. Então, o Professor Miles suspirou e apontou para uma cadeira vazia. “Vamos ouvi-lo.”
Leo entregou o violão emprestado a Harlan. As mãos de Harlan tremiam tanto que as cordas vibraram no primeiro acorde. Ele parou, fechou os olhos e respirou fundo. Então tentou novamente.

Um homem tocando violão | Fonte: Pexels
Anúncio
Dessa vez, o som que saiu foi diferente. Áspero a princípio, as notas eram irregulares e hesitantes. Mas então algo mudou. Seus dedos encontraram o ritmo, e a música se aprofundou em algo pleno e visceral. Ele entrelaçou a melodia que a banda vinha ensaiando, dobrando as notas como se estivesse despejando 20 anos perdidos em cada compasso.
O baterista suavizou a batida, acompanhando o ritmo de Harlan. O saxofonista se aproximou, captando as frases de Harlan e repetindo-as. Toda a banda se adaptou, seguindo a liderança de Harlan como se estivessem esperando por aquele som exato sem saber.

Foto em close-up de uma bateria | Fonte: Pexels
Anúncio
Quando a música terminou, ninguém disse nada. O silêncio se estendeu, pesado e incerto.
Então, a sala irrompeu em aplausos. Os alunos se levantaram, aplaudindo e assobiando. O professor Miles enxugou os olhos, assentindo lentamente.
Patrícia estava perto da porta, seus braços já não estavam mais cruzados. Ela caminhou lentamente para a frente, sua expressão mais suave do que Leo jamais vira.
“Sr. Harlan”, disse ela em voz baixa. “Temos um programa de extensão comunitária que leva música a bairros carentes. Talvez tenhamos uma vaga para o senhor como instrutor em tempo parcial. Se tiver interesse.”

Uma mulher sorrindo | Fonte: Midjourney
Anúncio
Harlan olhou para ela, sem palavras. Então, assentiu com a cabeça, incapaz de articular qualquer palavra.
Nas semanas seguintes, a universidade usou uma pequena verba de ensino para contratar Harlan como instrutor de improvisação de jazz em tempo parcial. Por meio de uma instituição de caridade parceira, eles o ajudaram a conseguir moradia estável em um apartamento subsidiado perto do campus.
Os alunos começaram a chamá-lo de “Professor Harlan” e a fazer fila depois da aula para perguntar como fazer seus solos parecerem reais e como tocar com convicção.
Quando perguntei a Leo por que ele havia insistido tanto, por que havia arriscado seu emprego e sua reputação por um estranho, ele não hesitou.

Um homem sorrindo | Fonte: Midjourney
Anúncio
“Já vi o que acontece quando o talento morre em silêncio”, disse ele. “Já vi pessoas desistirem porque ninguém acreditava nelas. Desta vez, decidi que preferia me meter em encrenca do que passar por um homem cujo cartaz dizia que ele ainda sonhava.”
Harlan ainda toca na universidade. Ele se apresenta em recitais estudantis e concertos beneficentes. E toda vez que pega um violão, fecha os olhos e se lembra do professor que se recusava a passar por ele sem dar atenção.
Às vezes, o maior ato de coragem não é chegar ao topo. É parar no meio do caminho para estender a mão e puxar alguém junto com você.
Veja bem, segundas chances não acontecem por acaso. Elas acontecem porque alguém, em algum lugar, decidiu que os erros ou infortúnios passados de uma pessoa não definem seu valor futuro.
Leo não apenas deu a Harlan uma nova chance de jogar. Ele o lembrou de que sonhos não têm prazo de validade e que nunca é tarde demais para recuperar a vida que você pensava ter perdido.
Leave a Reply