
Mudei-me para a antiga casa da minha falecida mãe para recomeçar a vida depois que meu marido me deixou grávida e sozinha. Mas, enquanto arrumava o quarto do bebê, encontrei algo escondido na parede que me deixou arrepiada.
O OBSERVADOR
Quando vi a casa novamente, ela parecia menor do que eu me lembrava. O tempo havia lhe roubado tudo o que era aconchegante; a tinta descascava como pele seca e a varanda estava cedendo.
Mas era minha. A casa da minha mãe. A única coisa que restou depois do divórcio e do homem que me abandonou quando engravidei.
Quando vi a casa novamente pela primeira vez,
Parecia menor do que eu me lembrava.
“Você vai mesmo se mudar para lá?” perguntou a Sra. Harrison, com os lábios finos se curvando num sorriso enquanto eu descarregava caixas a dois quarteirões de distância. “É que… quase ninguém mora mais no final da rua. Silencioso demais. Vazio demais.”
“É exatamente disso que eu preciso”, eu disse.
Lá dentro, tudo cheirava a poeira e sabonete de lavanda. As pequenas rosas no papel de parede do corredor estavam desbotando para amarelo, ainda penduradas, quebradiças e descascando.
“Você vai mesmo se mudar para lá?”
Comecei a desempacotar, tentando imaginar o riso voltando a acontecer ali. Minha barriga de grávida roçou em um berço ainda na embalagem.
“Vamos deixar tudo aconchegante, meu bem”, sussurrei.
Lá fora, os sussurros dos vizinhos se espalhavam facilmente. “Ela está sozinha, coitadinha. E grávida! Que tipo de mãe ela será?”
“Ela está completamente sozinha, coitadinha. E grávida!”
Que tipo de mãe ela será?
Fechei a janela com força. De repente, eu o vi. Do outro lado da rua estreita, atrás de uma cortina entreaberta, um homem observava. Ombros largos, cabelos grisalhos. Ele não desviou o olhar, mesmo quando o flagrei encarando.
Mais tarde, arrastando uma cadeira velha para a varanda, vi-o atravessar a rua em silêncio. Ele parou e apontou para uma tábua solta.
“Você vai tropeçar nisso.”
“Obrigado. Eu já estava querendo consertar isso.”
Ele não desviou o olhar, mesmo quando o flagrei encarando.
Ele se agachou, pregou-o de volta no lugar e se levantou.
“Sua mãe sempre fez isso”, acrescentou ele simplesmente, assentiu uma vez e se afastou.
“Espere! Eu—”
Mas ele já tinha ido embora, e a porta do outro lado da rua se fechou atrás dele.
“Sua mãe sempre fez isso.”
Mais tarde, durante o chá, a Sra. Harrison bateu à porta.
“Você o conheceu, não foi? Harry. Sua mãe costumava conversar muito com ele na varanda. Aí um dia… ela parou. Ninguém o viu por meses.”
“O que aconteceu?”, perguntei, franzindo a testa.
A Sra. Harrison deu de ombros. “Dizem que ele não está bem desde que sua mãe faleceu. Você não ouviu isso de mim.”
Você o conheceu, não foi? Harry.
Sua mãe costumava conversar muito com ele na varanda.”
Quando ela saiu, caminhei pela casa, inquieto.
No quarto do bebê, pressionei a palma da minha mão contra a parede onde eu havia planejado colocar o novo papel de parede.
A tinta parecia fria e mais áspera ali, e achei ter ouvido um leve ruído de batidas, como se algo estivesse se movendo lá dentro.
“Apenas uma brisa.”
Eu não sabia na época, mas por trás daquele papel de parede desbotado estava o segredo que estava prestes a mudar minha vida.
Achei que ouvi um leve ruído de batidas, como se algo estivesse se movendo lá dentro.
A PAREDE DOS SUSSUROS
Na segunda semana, minhas mãos estavam cheias de bolhas, mas consertar a casa era como costurar meu próprio corpo, pedaço por pedaço. Eu precisava de um martelo melhor.
Mais tarde, enquanto levava para fora pedaços velhos de papel de parede, vi Harry novamente, cortando lenha na entrada de sua casa. Atravessei a rua.
“Ei! Por acaso você sabe onde eu poderia pegar uma caixa de ferramentas emprestada?”, perguntei.
Ele ergueu os olhos, semicerrando-os por causa da luz do sol. “Você já tem uma. Da sua mãe. Está no armário embaixo da escada.”
Você já tem uma. A da sua mãe.
Fica no armário embaixo da escada.”
“Como você—”
Mas ele já tinha voltado a serrar, me dispensando completamente. Suas palavras não me saíam da cabeça. Eu nem sabia que aquele armário existia. Voltei correndo e encontrei a porta de madeira embaixo da escada.
Dentro havia uma velha caixa de ferramentas vermelha, cuidadosamente arrumada, como se estivesse à espera. A letra da minha mãe estava numa etiqueta colada com fita adesiva: “Para reparos — somente se você souber o que está fazendo.”
Que coisa estranha, meu vizinho esquisito conhece esta casa melhor do que eu.
Eu ainda estava olhando fixamente para a caixa de ferramentas quando a porta da frente se abriu rangendo.
Que coisa estranha, meu vizinho esquisito conhece esta casa melhor do que eu.
“Você não deveria deixá-lo destrancado”, disse Harry em voz baixa.
Dei um pulo, agarrando-me à porta do armário.
“Nossa, você me assustou! Você simplesmente entrou?”
Ele ignorou a pergunta, segurando um martelo. “Você precisava disso”, disse ele, simplesmente entregando-o. Em seguida, começou silenciosamente a consertar uma porta de armário solta ali perto, agindo como se pertencesse àquele lugar.
“Você não deve deixá-lo destrancado.”
“Você conhecia bem minha mãe?”, perguntei baixinho, observando-o trabalhar.
“Sim”, disse ele sem levantar o olhar.
“Vocês eram… amigos?”
“Algo assim.”
Queria perguntar mais sobre sua estranha presença, mas ele saiu logo em seguida, como sempre, fechando a porta atrás de si.
Você conhecia bem a minha mãe?
Naquela noite, pensando no aviso da Sra. Harrison, ele ainda está esperando por ela.
Fiquei olhando para a parede antiga no quarto das crianças.
Que ligação poderia haver entre minha falecida mãe e esse estranho observador?
Então, peguei uma espátula. O papel velho se soltou facilmente. Por baixo dele, palavras começaram a surgir — trêmulas, escritas à mão. A letra da minha mãe!
O papel antigo descascou-se facilmente.
Por baixo, começaram a surgir palavras — trêmulas, escritas à mão.
O último fragmento se soltou, e a frase inacabada abaixo dele me deu um nó no estômago. Dei um passo para trás, com o coração disparado, e sussurrei: “Harry… o que você tem a ver com isso?”
A FAMÍLIA
Quando atravessei a rua na manhã seguinte, o céu tinha adquirido uma cor de aço. A porta da frente da casa de Harry estava entreaberta, um convite sombrio.
“Harry?” chamei, com a voz trêmula e rouca por causa de uma noite em claro. Nenhuma resposta.
Empurrei a porta mais para o lado. Sobre a lareira, havia uma coleção de fotos emolduradas. Prendi a respiração, como se meu peito tivesse se apertado, ao ver a primeira delas.
Na prateleira acima da lareira havia uma coleção de fotos emolduradas.
Prendi a respiração, como se meu peito tivesse se apertado, quando vi o primeiro.
Minha mãe e Harry: rindo, abraçados, em frente a esta mesma casa. Dei um passo para trás, agarrando-me à moldura.
“Oh meu Deus…”
O chão rangeu atrás de mim e eu me virei. “Procurando alguma coisa?”
Harry estava parado na porta, molhado pela chuva.
“Eu… eu não queria entrar. Por que vocês têm isso? Minha mãe… por quê?”
“Está procurando alguma coisa?”
Ele suspirou profundamente. “Ela os deixou aqui. Disse que seria mais seguro se eu os guardasse.”
“Ela me disse que meu pai morreu. Quem é você?”
Ele passou a mão pelos cabelos grisalhos, visivelmente em conflito com a verdade.
“Tivemos nossas brigas. Brigas feias. Eu a avisei que seu marido não era o homem que ela pensava, mas ela me ignorou. Ela me fez prometer. Jurou que se eu contasse a verdade, me excluiria da vida dela para sempre. E quando ela ficou doente… eu não podia arriscar.”
“Tivemos nossas brigas. Brigas feias.”
Eu a avisei que seu marido não era o homem que ela pensava, mas ela me ignorou.
“Arriscar o quê?”, perguntei.
“Corro o risco de perder os últimos anos que passei com ela. Eu… eu não sou seu pai”, confessou ele finalmente. “Sou seu tio. Irmão da sua mãe.”
“Todos esses anos… e você morava do outro lado da rua, observando?”
“Você viu, não viu?” perguntou ele, baixando o olhar. “A parede. Você viu meu nome escrito por ela.”
“A parede. Você viu meu nome escrito por ela.”
“Eu vi seu nome e a letra dela, bem lá no alto. Não consegui alcançar. Diga-me o que está escrito, Harry. Diga-me o que ela queria que eu soubesse.”
Harry respirou fundo, com dificuldade. “Quer ver o que está escrito ali? Então venha. Vamos ler juntos.”
Atravessamos a rua. Dentro da casa da minha mãe, o berçário nos esperava. A parte principal da mensagem estava perto da linha do teto.
Harry pressionou a palma da mão contra a parede fria. Pegou o raspador, subiu em uma cadeira resistente e começou a descascar delicadamente.
“Você quer ver o que está escrito ali?”
Então venha. Vamos ler juntos.”
Aos poucos, as letras foram se revelando por completo:
“Se algum dia você ler isso, saiba que Harry pode ser o pai que você nunca teve. Me perdoe. Mãe.”
Harry desceu os degraus, o rosto pálido. Virei-me para ele, as lágrimas embaçando tudo ao meu redor.
“Você me disse que era meu tio. Mas ela escreveu que você poderia ser o pai que eu nunca tive. Por quê?”
“Ela escreveu isso porque sabia que eu te amava como uma filha. Ela inventou a mentira para te proteger do caos da nossa família. Ela simplesmente não sabia como acabar com a mentira, mesmo estando doente. Eu tinha medo de quebrar seu último desejo.”
“Talvez seja hora de alguém quebrar o silêncio”, sussurrei.
“Então me deixe ficar desta vez.”
Lá fora, o trovão ribombava em algum lugar distante além das colinas. Mas lá dentro, com Harry parado ali, a casa finalmente parecia quente e completa novamente.
Lá fora, o trovão ribombava em algum lugar muito além das colinas.
Mas lá dentro, com Harry ali parado, a casa finalmente pareceu quente e completa novamente.
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