
Pensei que tinha deixado o passado para trás quando minha irmã desapareceu há vinte anos. Mas na noite em que encontrei seu antigo chaveiro no meu jardim, memórias que eu havia enterrado voltaram com força, e logo percebi que a história dela não estava tão perdida no tempo quanto eu sempre acreditara.
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A família é tudo. É o que nos mantém firmes, o que nos ampara quando a vida desmorona. Aprendi isso da maneira mais difícil – ao perder a minha.
A família é tudo
Já não gosto de pensar naqueles anos. As lembranças ainda doem. Mas agora, tenho minha própria família, minha própria casa, e tento manter o passado enterrado onde ele pertence.
Aquela manhã foi como qualquer outra. A cozinha cheirava a café e torradas, a luz do sol entrava pela janela enquanto eu apressava Ethan para se arrumar para a escola.
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“Você estava usando seu smartwatch?”, perguntei.
As lembranças ainda doem.
“Sim, mãe”, disse ele com o tom impaciente de uma criança de sete anos.
“Ótimo. E lembre-se, não saia da escola até que Lily venha te buscar. Prometa-me, Ethan.”
“Eu sei, mãe.”
“Sim, mãe”
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“E as regras?”
Ele revirou os olhos, mas recitou-as de cor: “Não fale com estranhos, não se aproxime de estranhos e não aceite nada de estranhos.”
Assenti com a cabeça. “Bom garoto.”
“E as regras?”
Daniel, parado junto à porta com seu café na mão, balançou a cabeça e deu um leve sorriso. “Tudo bem, campeão, pode ir para o carro”, disse ele.
Ethan saiu correndo, com a mochila balançando atrás dele.
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Quando a porta se fechou, Daniel se virou para mim. “Você vai acabar ficando doente de preocupação um dia.”
“Um dia você vai ficar doente de preocupação.”
“Você sabe por que sou do jeito que sou. Não posso deixar a história se repetir.”
Ele se aproximou, afastou uma mecha de cabelo do meu rosto e beijou minha testa.
“Nada vai acontecer com ele, Claire. Ele está seguro. Nós estamos seguros.” Então ele pegou as chaves e saiu para o trabalho.
“Você sabe por que sou do jeito que sou. Não posso deixar a história se repetir.”
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Talvez ele tivesse razão. Talvez eu tenha ido longe demais às vezes. Mesmo assim, eu não conseguia me controlar. Cheguei até a costurar um pequeno rastreador dentro do tênis do Ethan.
Até recentemente, eu era mãe em tempo integral. Mas, conforme Ethan foi crescendo, comecei a desejar algo mais.
Voltar ao trabalho foi ao mesmo tempo assustador e libertador.
Talvez eu tenha ido longe demais às vezes.
Só aceitei quando encontrei a babá perfeita, alguém em quem eu pudesse confiar completamente. Foram semanas de entrevistas, mas quando conheci Lily, algo nela me pareceu familiar.
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Havia calor em seu sorriso, uma gentileza que eu não conseguia explicar. Ela me transmitia… segurança.
Naquela noite, depois que cheguei do trabalho, Ethan e eu estávamos construindo torres de Lego no tapete da sala quando alguém bateu na porta.
Ela se sentiu… segura
Eu não estava esperando ninguém. Abri a porta e encontrei uma jovem parada ali, segurando uma torta coberta com um pano de prato.
“Olá”, disse ela alegremente. “Sou Rachel, sua nova vizinha. Acabei de me mudar para a casa ao lado e pensei em vir me apresentar.”
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Seu rosto me pareceu estranhamente familiar, embora eu não conseguisse me lembrar de onde a conhecia.
“Sou Rachel, sua nova vizinha.”
“Oh, que gentileza sua”, eu disse. “Por favor, entre. Ou melhor ainda, vamos sentar no jardim enquanto o tempo ainda está bom.”
Rachel me seguiu até lá fora. A conversa fluiu com facilidade, até demais.
Conversar com ela foi como reencontrar uma velha amiga que eu não via há anos.
A conversa fluiu com facilidade, até demais.
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Quando ela saiu, a lua já havia nascido. Arrumei tudo, apaguei as luzes e estava prestes a subir as escadas quando notei um brilho fraco no jardim.
Algo pequeno captou a luz perto do canteiro de flores.
Abaixei-me e peguei. Um chaveiro. Senti um nó na garganta.
Um chaveiro
Um pequeno coração de madeira com a tinta vermelha descascada, aquele que eu mesma esculpi quando tinha treze anos, para minha irmãzinha, Anna. Pendurada nele estava uma velha chave de prata, a chave da nossa casa de infância.
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Não houve engano.
Eu ainda conseguia ver a leve marca de queimadura perto da argola, de quando a deixei cair acidentalmente muito perto do fogão na noite em que a fiz.
A chave da nossa casa de infância
Eu não via aquele chaveiro há vinte anos. Não desde o dia em que Anna desapareceu.
Não consegui dormir um minuto sequer naquela noite. O chaveiro estava sobre a mesa da cozinha, sob a luz fraca do abajur.
Vinte anos haviam se passado desde o desaparecimento de Anna, mas segurar aquela chave era como ser puxada diretamente de volta para aquele dia.
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Eu não via aquele chaveiro há vinte anos.
Ela tinha apenas nove anos. Aconteceu durante um acampamento escolar. Estava chovendo muito naquela noite, e um dos meninos desapareceu perto das barracas.
Os professores enviaram todos para ajudar a procurá-lo, embora o rio perto do acampamento estivesse subindo rapidamente. O menino apareceu meia hora depois, encharcado e chorando.
Anna não fez isso.
Ela tinha apenas nove anos.
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Procuramos durante dias, mas não encontramos nada. Nem pegadas, nem roupas, nenhum vestígio dela.
Meus pais enterraram um caixão vazio. Ninguém nunca disse isso em voz alta, mas acho que uma parte de cada um de nós ainda acreditava que ela poderia voltar.
Em vez disso, meus pais se separaram. Fiquei com minha mãe, e ela nunca se recuperou. Talvez eu também não.
Procuramos durante dias, mas não encontramos nada.
Perder a Anna me deixou apavorada com a ideia de perder qualquer pessoa novamente. É por isso que protejo o Ethan do jeito que protejo.
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Quando Daniel desceu as escadas pela manhã, eu ainda estava sentada à mesa, com os olhos ardendo por causa da falta de sono.
Ele parou na porta. “Claire, você sequer foi dormir?”
Perder a Anna me deixou apavorada com a ideia de perder qualquer pessoa novamente.
Balancei a cabeça negativamente e empurrei o chaveiro na direção dele. “Olha isso.”
“O que é?”
“O chaveiro da minha irmã”, eu disse. “Encontrei-o no jardim ontem à noite.”
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“Tem certeza de que é dela?”
“O chaveiro da minha irmã”
“Eu fiz isso para ela. Eu reconheceria em qualquer lugar.”
“Talvez o Ethan tenha encontrado em algum lugar? Crianças pegam coisas aleatórias o tempo todo.”
“Ela estava com as chaves quando desapareceu. Elas nunca foram encontradas.”
“Eu fiz isso para ela”
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“Então não sei o que te dizer. Ninguém entrou no nosso quintal.”
Abri a boca para responder, mas então me dei conta. “Espere. Rachel, a nova vizinha. Ela veio aqui ontem à noite. Não me lembro de onde a conhecia, mas ela me parecia familiar. Talvez…”
“Claire”, disse ele gentilmente, “você acha que sua vizinha é sua irmã?”
“Ninguém entrou no nosso quintal”
“Não sei”, admiti. “Anna tinha uma marca de nascença no ombro. Se eu pedir para ela mostrar—”
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Você está exausto(a). Durma um pouco. Por favor.
“Não posso”, eu disse. “Não até que eu resolva isso.”
Ele suspirou. “Vou ligar para a Lily vir aqui. Você precisa descansar, e eu tenho que dirigir até a casa dos meus pais hoje.”
“Anna tinha uma marca de nascença no ombro”
“Não precisa”, protestei. “É meu dia de folga. Vou ficar com o Ethan.”
“Você diz isso agora, mas está sem energia”, disse ele.
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Meia hora depois, Daniel me deu um beijo de despedida e foi embora. Sentei-me à mesa, encarando o chaveiro novamente, até a campainha tocar.
“Não há necessidade”
Lily estava na varanda, sorrindo como sempre. “Oi, Claire. Daniel disse que você precisava de mim hoje.”
“Obrigado por ter vindo no seu dia de folga”, eu disse.
“Ah, não é nada”, disse ela. “Estar aqui nem parece trabalho. É como visitar a família.”
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“Obrigado por ter vindo no seu dia de folga”
“Nós sentimos o mesmo por você”, eu disse sinceramente.
“Você parece cansada”, ela observou gentilmente. “Por que você não descansa um pouco? Eu cuido do Ethan.”
“Na verdade, preciso sair um pouco primeiro. Depois, prometo descansar.”
“Claro”, disse Lily. “Não tenha pressa.”
Você parece cansado(a).
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Peguei meu casaco, coloquei o chaveiro no bolso e saí.
Atravessei a rua com o coração acelerado, o chaveiro ainda quente no bolso. Respirei fundo e bati na porta.
Rachel abriu a porta quase imediatamente. “Claire! Entre.”
Atravessei a rua com o coração disparado.
“Obrigada”, eu disse, entrando. “Espero não estar incomodando.”
“De jeito nenhum”, disse ela. “Quer um café?”
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Balancei a cabeça negativamente. “Na verdade, eu queria te perguntar uma coisa.”
Rachel inclinou a cabeça, curiosa. “Claro.”
“Eu queria te perguntar uma coisa”
“Você morou nesta cidade a vida toda?”
Ela sorriu. “Na verdade, não. Eu nasci aqui e frequentei a escola primária aqui perto, mas minha família se mudou quando eu tinha dez anos. Voltei recentemente. Por quê?”
“É que… seu rosto me parece familiar. Como se eu já tivesse te visto antes.” Hesitei. “Posso te perguntar uma coisa estranha?”
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“Você morou nesta cidade a vida toda?”
“Claro.”
“Por acaso você tem uma marca de nascença no ombro?”
Rachel piscou e depois riu baixinho. “Isso é específico. Não, eu não tenho.” Ela puxou o suéter para o lado, revelando a pele lisa.
“Por acaso você tem uma marca de nascença no ombro?”
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O ar escapou dos meus pulmões. Nenhuma marca. “Desculpe”, murmurei. “Devo ter te confundido com alguém que eu estava procurando.”
“Na verdade, você também me pareceu familiar. A princípio, não consegui entender o porquê, mas… espere um segundo.”
Ela caminhou até a estante e pegou uma pequena foto gasta. “Aqui está.”
Sem marca
Uma foto de turma, daquelas que a gente tira todo ano no ensino fundamental. Lá estava eu — com trancinhas, sem um dente da frente — e ao meu lado, Rachel, sorrindo do mesmo jeito que sorria agora.
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“Nós éramos da mesma turma”, disse ela.
“Isso explica tudo”, devolvi a foto e sorri levemente. “Foi uma noite longa. Acho que preciso descansar um pouco.”
“Estávamos na mesma turma”
Rachel me acompanhou até a porta. “Espero que você encontre quem está procurando, Claire.”
“Obrigada”, eu disse baixinho e saí.
Ao atravessar a rua, o sol da manhã parecia forte demais. Talvez Daniel tivesse razão.
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“Espero que você encontre quem está procurando, Claire.”
Talvez as chaves estivessem em uma das minhas caixas antigas e Ethan as encontrou por acaso. Talvez tenha sido apenas uma coincidência. Eu precisava deixar isso para lá.
Quando abri a porta de casa, ouvi risadas vindas do quarto das crianças. Lily estava sentada no chão, ajudando Ethan a construir uma torre com blocos. Ela olhou para cima e sorriu.
“Oh, Claire! Que bom que você encontrou minhas chaves!”, disse ela alegremente.
Eu precisava deixar isso para lá.
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Parei abruptamente. “Suas chaves?”
“Sim”, disse ela, erguendo-os: o coração de madeira e a chave de prata pendurados entre seus dedos. “Eu os vi sobre a mesa mais cedo. Nem percebi que os tinha deixado cair ontem.”
“Onde você conseguiu isso?”
“Suas chaves?”
Lily deu de ombros. “Sinceramente, não sei. Tenho-as desde pequena. Perdi a memória quando era criança. Meus pais adotivos disseram que me encontraram na margem de um rio e que essas eram as únicas coisas que eu tinha comigo.”
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As lágrimas brotaram antes que eu pudesse contê-las. “À beira de um rio?”
“Eu os tenho desde criança”
Ela assentiu com a cabeça, confusa. “Sim. Por quê?”
Minha voz tremia. “Lily… você poderia me mostrar seu ombro?”
Ela piscou surpresa, mas lentamente puxou a manga para o lado. Lá estava, uma pequena marca de nascença desbotada, exatamente com o mesmo formato que eu já tinha visto centenas de vezes.
Lá estava ela, uma marca de nascença.
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“Anna”, sussurrei.
Ela franziu a testa. “O quê?”
“Seu nome”, eu disse. “Seu nome verdadeiro é Anna.”
Lily riu nervosamente. “Isso não pode estar certo.”
“Ana”
Mas eu já estava caminhando em direção à sala de estar. Minhas mãos tremiam enquanto eu pegava um álbum de fotos antigo da estante e folheava as páginas até encontrá-lo.
Uma foto de duas meninas com vestidos iguais, uma delas segurando o mesmo chaveiro de madeira em forma de coração.
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Entreguei-a a ela. “Essa é você. Essa é a nossa história. Vinte anos atrás, minha irmã desapareceu durante uma excursão escolar. Eu fiz esse chaveiro para ela.”
“Esse é você. Esse é o nosso grupo.”
Os olhos de Lily se encheram de lágrimas enquanto ela olhava para a foto e depois para mim. “Eu… eu não entendo.”
Estendi a mão para ela. “Você não precisa. Você está em casa agora.”
Por um instante, ela apenas olhou para mim, depois me abraçou forte, soluçando em meu ombro. Depois de vinte anos, finalmente encontrei a parte de mim que pensei ter perdido para sempre. Minha irmã. Minha Anna.
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“Você está em casa agora”
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