“Você vai se arrepender!” Um homem rico me ameaçou depois que o impedi de enganar uma viúva, mas o confronto revelou uma conexão inesperada

Ele me seguiu até em casa. Eu só tinha falado em um bazar para dizer a uma viúva enlutada que a coleção de câmeras antigas do seu falecido marido valia milhares, não os míseros 300 dólares que aquele homem lhe oferecera. Mas quando ele apareceu na minha porta, gritando e quebrando coisas, eu soube que aquilo não tinha acabado.

Eu não estava procurando nada em particular quando parei para dar uma olhada em uma venda de garagem naquele sábado. A entrada estava abarrotada com as coisas de sempre: luminárias que ninguém queria, pilhas de livros de bolso rachados e pratos desencontrados.

Então vi a mesa dobrável no fundo e me aproximei dela sem pensar, atraído por algo que eu ainda não conseguia nomear.

Uma Canon AE-1, uma Leica M4 e até uma Minolta envoltas em fita amarelada, com o fotômetro empoeirado, mas intacto.

Não eram apenas câmeras; eram pedaços da história. Pedaços da paixão de alguém.

Eles me lembravam meu pai.

As lembranças voltaram antes que eu pudesse impedi-las: meu pai limpando cuidadosamente uma lente com um pano especial e o cheiro de produtos químicos de revelação em seu quarto escuro improvisado.

Às vezes, ela me deixava segurar as câmeras, me ensinando a focar e enquadrar as fotos. A ver o mundo de uma maneira diferente.

Mas então meu peito apertou.

Porque junto com essas boas lembranças vieram as ruins, que ela passou anos tentando enterrar.

Ela foi embora quando eu tinha 14 anos. Minha mãe disse que ela nos abandonou, que ela partiu para uma nova vida sem olhar para trás.

Nunca soube se era verdade ou apenas a versão dele, mas, de qualquer forma, ele se foi. Mamãe nos mudou para outro estado, e eu aprendi a conviver com o vazio que papai deixou.

“Você se interessa por câmeras?”

Olhei para cima e vi uma mulher mais velha me observando com olhos gentis. Um crachá adesivo em seu peito dizia “Lois”.

“Ah”, eu disse, ainda um pouco atordoada. “Sim, estou interessada. Elas são lindas.”

“Elas pertenciam ao meu marido. Ele faleceu em abril”, disse ela, tocando delicadamente a Leica. “Ele adorava essas coisas, e eu adoraria que elas fossem para alguém que as apreciasse tanto quanto ele.”

Senti um nó na garganta. “Sinto muito pela sua perda.”

Eu estava prestes a perguntar sobre a Leica quando uma voz aguda cortou o momento como uma faca.

“Vou levar o lote por US$ 300.”

Nós dois nos viramos. Um homem se aproximou da mesa, claramente deslocado com sua camisa passada, mocassins caros e óculos escuros de grife.

Ele não esperou pela nossa permissão, mas começou a juntar as câmeras nos braços como se estivesse fazendo compras.

Lois piscou, surpresa. “Ah, parece que sim…”

“São antiquados”, interrompeu ele, sem sequer olhar para ela.

“Ninguém mais usa filme. Estou te fazendo um favor, de verdade.”

Sua atitude arrogante me fez pensar que ele sabia exatamente quanto aquelas câmeras valiam de verdade. Ele provavelmente planejava vender por um preço menor do que o da Lois e depois vendê-las por dez vezes mais.

Eu não podia ficar em silêncio.

“Só essa Leica pode valer mais de mil dólares”, eu disse, dando um passo à frente. “A Canon também. E esse fotômetro parece novinho em folha.”

O homem virou a cabeça na minha direção.

Ele baixou os óculos de sol o suficiente para me olhar. “Isso não é da sua conta.”

Mas Lois ficou atônita. “Sério? Tudo isso?”

Assenti com a cabeça. “Por favor, não os venda até que alguém os tenha avaliado adequadamente.”

O homem zombou. “Não dê atenção a ele. Ele só está tentando vender. Na realidade, ninguém quer comprar essas coisas. Nem mesmo os colecionadores”, disse ele, gesticulando com desdém em direção à mesa.

O sorriso educado de Lois endureceu um pouco. “Obrigada, senhor. Mas acho que vou seguir o conselho da moça e mandar avaliá-los de qualquer maneira.”

O maxilar do homem se contraiu. Sua voz baixou para um sussurro que só eu pude ouvir. “Você vai se arrepender disso.”

Então ele se virou e caminhou em direção a um SUV preto estacionado na calçada. O motor roncou. O veículo arrancou em alta velocidade, com os pneus cantando.

Alguns minutos depois, Lois me acompanhou até o carro, agradecendo-me profusamente. Ela notou o adesivo do meu negócio online e sorriu. “Vou te recomendar para os meus amigos.”

Retribui o sorriso, mas o calor não chegou ao meu peito. A advertência do homem impregnou minha pele como umidade.

Tentei afastar esse sentimento enquanto dirigia para casa, mas então vi o SUV novamente.

No início, ele estava duas faixas atrás, depois uma, e então ficou no meu ponto cego, exatamente na mesma velocidade que eu.

Tentei me convencer de que era uma coincidência, que talvez nem fosse o mesmo carro, mas no fundo eu sabia que era ele.

Saí da rodovia antes do horário previsto, entrei no estacionamento de um supermercado e fui me espremendo entre fileiras de carros e minivans estacionadas que pareciam se estender por quilômetros.

O SUV não me seguiu.

Vinte minutos depois, cheguei em casa. O alívio foi imediato. Peguei minha bolsa e me dirigi à porta da frente quando ouvi pneus cantando e um carro freando bruscamente atrás de mim.

Me virei e o medo me dominou como um balde de gelo. Era o SUV. O homem saltou para fora e começou a caminhar direto na minha direção.

Eu não pensei. Apenas corri.

Eu já tinha as chaves na mão. Abri a porta, entrei e bati-a com força.

Momentos depois, ele começou a bater na porta.

“Você acha que pode me humilhar?”, ele rugiu. “Você não sabe quem eu sou. Não pode simplesmente arruinar o acordo e ir embora.”

Afasto-me da porta, com o pulso acelerado e latejando nos meus ouvidos.

“Vá embora!” gritei. “Ou vou chamar a polícia!”

O impacto foi mais forte. Ouvi algo bater em alguma coisa — um vaso de flores? Peguei meu celular e disquei 911 assim que ouvi outro estrondo lá fora.

A atendente me disse calmamente que os policiais estavam a caminho. As batidas na porta recomeçaram, acompanhadas de insultos.

Até a chegada da polícia, ela estava sozinha.

A porta tremeu quando algo pesado bateu contra ela.

Mais vasos de cerâmica se quebraram lá fora. Afastei-me da porta e olhei pela janela da sala. Ela pegou um dos meus vasos de flores e o atirou contra a porta da frente.

As sirenes soaram ao longe, aproximando-se cada vez mais, num crescendo bem-vindo. Ele pareceu não perceber que eram para ele até que a polícia se aproximou.

Os policiais o prenderam por assédio e invasão de propriedade ali mesmo, na entrada da minha casa.

Pensei que seria o fim, mas estava enganado.

Quando a polícia foi embora, fiquei um tempo na varanda, respirando calmamente, deixando a adrenalina baixar.

Então, com calma, tentei organizar as coisas. Juntei os cacos de cerâmica em uma pilha e replantei minhas ervas e flores em baldes velhos que encontrei na garagem.

Eu estava regando a última planta quando um carro parou.

Dessa vez foi Lois.

Ele desceu com cuidado, levando uma bolsa de couro gasta até o peito.

“Desculpe aparecer sem avisar”, disse ele. “Pesquisei sobre sua empresa por causa do adesivo no para-choque e encontrei seu endereço no seu site. Espero que não se importe.”

“Claro”, eu disse. “Está tudo bem?”

Ela sorriu. “Ah, sim. Levei a coleção à loja que você mencionou. Eles ficaram encantados. Disseram que poderia valer mais de 7.000 dólares.”

“Mas eu não vim para isso”, acrescentou.

Ela apertou a bolsa contra o corpo, como se fosse frágil. “Esta não estava com as outras. Meu marido a guardava no criado-mudo. Ele disse que estava quebrada, mas a guardou por razões sentimentais, porque foi a primeira câmera com a qual aprendeu a fotografar. Achei que você gostaria dela.”

Ela me entregou a sacola. Quando a peguei, meus olhos se depararam com algo que fez o tempo parar.

Havia uma mancha verde-azulada na caixa, desbotada, mas inconfundível.

Minhas mãos começaram a tremer. Eu reconheci aquela mancha.

Eu a fiz quando tinha dez anos, durante uma das minhas fases artísticas caóticas. Derramei uma lata de tinta no estúdio do meu pai, bem em cima da caixa da câmera dele. A mancha nunca saiu. Ele riu disso e disse que dava personalidade à caixa.

Tinha que ser uma coincidência, mas minhas mãos não paravam de tremer quando abri a sacola.

Dentro havia uma Canonet 28. A carcaça da lente estava completamente rachada, como uma teia de aranha, o que me causou uma dor no peito quando a reconheci.

“Meu Deus”, sussurrei.

As lágrimas embaçaram minha visão. Eu mal conseguia respirar. “Lois, o nome do seu marido era Mike?”

Ela pareceu surpresa. “Esse era o nome dela. Mas como você sabe?”

Eu não conseguia falar. Sentia um nó na garganta.

“Você leu o rótulo?”, ela perguntou, inclinando-se para mim, confusa. “Não… está embaixo da câmera.”

As palavras surgiram por si mesmas, tiradas da memória.

“Para Mike. Continue vendo o mundo através das suas próprias lentes”, citei de memória.

Minha voz falhou quando toquei na câmera novamente, sentindo os cacos de vidro sob meus dedos. “Eu a quebrei quando tinha onze anos. Deixei cair e pensei que ela me odiaria por isso, então corri para a floresta e não voltei por horas. Ela me encontrou ao entardecer e me disse que o importante não era a câmera. Era a lembrança.”

Lois piscou rapidamente. Agora seus olhos também estavam marejados. “É você, Jenna? A filhinha do Mike?”

Assenti com a cabeça. Meu corpo inteiro tremia.

Lois colocou uma mão delicadamente no meu braço. “Ele veio a esta cidade procurando por você há vinte e cinco anos.”

“Ele disse que ouviu dizer que sua mãe se mudou para cá depois do divórcio. Só para provocá-lo, disse ele. Ela queria lutar pela guarda.”

Minha voz saiu embargada e trêmula. “Mamãe me disse que não se importava mais com a gente, que nos abandonou para começar uma nova vida.”

Lois balançou a cabeça firmemente. “Ele os amou até o fim. Seu único arrependimento foi não ter conseguido se reconciliar com você.”

Agora as lágrimas caíam livremente.

Com as mãos trêmulas, tirei a câmera da bolsa e reli a mensagem. Todos aqueles anos de silêncio, me perguntando se ele realmente tinha seguido em frente e se estivera ali o tempo todo, me procurando. Me amando.

Olhei para Lois com a visão embaçada. “Por favor, entre. Gostaria de saber mais sobre ele, se não se importar.”

Ela esboçou um sorriso pequeno e trêmulo. “Claro que não.”

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