Tenho certeza de que este foi o pior dia da minha vida. Ou pelo menos, assim pensei — antes de tudo desmoronar de vez.
A manhã começou com um céu cinzento, pesado, como se o universo já soubesse que nada sairia como planejado. A entrevista de emprego era a minha última esperança. Eu tinha passado semanas enviando currículos, enfrentando olhares indiferentes e respostas automáticas. Mas desta vez, eu acreditava. A empresa parecia promissora, o cargo era modesto, mas digno. Eu estava preparado.
Até que, após quarenta minutos de conversa fria e formal, o entrevistador me lançou o clássico:
— “Entraremos em contato.”
A frase caiu como um soco no estômago. Eu já sabia o que significava. Silêncio eterno.
Saí do prédio com os ombros pesados, o coração apertado. O telefone vibrou no bolso. Era minha irmã.
— “É sobre a vovó. O tratamento… vai custar mais do que esperávamos. Muito mais.”
Ela hesitou.
— “Estamos falando de milhares, Miguel.”
Minha avó. A mulher que me criou quando meus pais desapareceram no acidente. A única pessoa que nunca me abandonou. Eu não podia deixá-la sofrer. Mas eu não tinha nada. Nem emprego, nem dinheiro. Só dívidas e desespero.
Andei sem rumo pelas ruas molhadas até que vi um letreiro luminoso: “Estamos contratando”. Era um café pequeno, aconchegante, com cheiro de pão fresco e café forte. Entrei, mais por impulso do que por esperança.
A garçonete me recebeu com um sorriso gentil.
— “Quer um café?”
— “Sim… e também gostaria de me candidatar à vaga.”
Ela assentiu e foi chamar o gerente.
Enquanto esperava, tentei recompor minha aparência. A camisa estava amarrotada, os sapatos molhados. Mas era tudo o que eu tinha.
Foi então que um homem mais velho, de avental escuro e expressão cansada, se aproximou com uma xícara fumegante.
— “Aqui está seu café.”
Mas antes que eu pudesse agradecer, a xícara escorregou da bandeja e o líquido quente se espalhou pelo meu peito, braços, e até pelo chão.
— “Cuidado, velhote!” gritei, instintivamente. “Como vou ser contratado agora?!”
Ele me olhou com calma. E piscou.
— “Na verdade… eu sou o gerente.”
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Eu tinha acabado de insultar o homem que poderia me dar uma chance. A última chance.
Mas então ele falou, com uma voz grave e surpreendentemente serena:
— “Sabe, Miguel… às vezes, o que parece um desastre é apenas o início de algo maior.”

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