
Juro que o vi. Toquei-o. Beijei-o. Senti-o. Seu hálito era quente, seus lábios tinham gosto de hortelã-pimenta — como sempre. Ele até usava o moletom cinza com capuz que eu sempre provocava porque era grande demais e o fazia parecer um “bandido gentil”. Ele era real. Ele me abraçou a noite toda. Sussurrou “eu te amo” no meu ouvido. Disse que nos casaríamos no ano que vem. Lembro-me de cada segundo. O jeito como ele passou os dedos pelo meu braço. O jeito como ele chorou quando eu chorei. O jeito como ele fez amor comigo com tanta paixão que pensei que minha alma se partiria ao meio. E então… ele desapareceu.
Acordei sozinha. Mas não tive medo. Só pensei que ele tivesse saído para correr, como às vezes fazia. Seu perfume ainda permanecia nos lençóis. Minha pele ainda queimava onde ele me tocava. Mas algo parecia estranho.
Meus telefonemas para ele não foram atendidos.
De novo.
De novo.
E então minha melhor amiga, Adesuwa, entrou no meu quarto, com o rosto pálido. Eu não entendia por que ela estava chorando.
“Simi…”, ela sussurrou. “Você não sabe?”
Eu ri. “Sabe o quê?”
“Tari está morto.”
Eu pisquei. “Morreu como?”
Ela soluçou mais forte. “Ele morreu há dois dias. Acidente de carro. Na noite da tempestade.”
Não. Não. Não. Não.
Eu gritei. Empurrei-a. Disse que ela era má por dizer aquilo. Que não tinha graça. Mostrei a ela a mensagem que Tari me enviou na noite anterior. A mensagem de voz que ele deixou dizendo: “Estou indo aí. Sinto falta do seu corpo ao lado do meu.” Ela olhou para o telefone, tremendo.
“Simi… ele não pode ter enviado isso. Ele já estava no necrotério.”
O mundo se inclinou.
Meus joelhos cederam.
Corri para o banheiro, peguei a toalha que ele usou, ainda úmida. O moletom que ele deixou no meu chão. A marca de mordida no meu pescoço.
Ele estava aqui.
Ele tinha que estar.
Mas a verdade é que… Tari foi enterrado ontem.
E de alguma forma, eu fiz amor com ele na noite passada.
Dias se passaram. As noites se tornaram insuportáveis. Eu não conseguia dormir. Toda vez que fechava os olhos, eu o via. Às vezes parado aos pés da minha cama. Às vezes sussurrando no meu ouvido. Uma noite, eu o ouvi dizer: “Não chore, querida. Eu ainda estou com você”. Tentei gravar, mas tudo o que consegui foi estática e minha própria respiração apavorada.
Então… minha menstruação atrasou.
Duas vezes.
Pensei que fosse estresse. Luto. Trauma.
Até que vomitei pela quinta vez em um dia.
Fiz um teste.
Duas linhas.
Positivo.
Desabei.
A única pessoa com quem eu tinha estado… era Tari.
Mas ele estava morto.
Enterrado. Em decomposição. Desaparecido.
No entanto, algo está crescendo dentro de mim.
Algo que se agita à noite.
Algo que brilha sob minha pele quando as luzes estão apagadas.
E toda vez que choro e digo que não consigo fazer isso…
eu o ouço sussurrar das sombras:
“Você não está sozinha. Nosso filho está chegando.”
Não me lembro de ter adormecido. Tudo o que me lembro é de acordar na banheira, com o teste de gravidez ainda apertado na mão, as duas linhas rosadas zombando da minha sanidade. Eu não falava com ninguém há dias — nem mesmo com Adesuwa. Meu telefone tocou uma dúzia de vezes. O nome dela iluminou a tela. Ignorei todas. Como eu poderia explicar que estava carregando um bebê para um homem que estava enterrado há semanas? Quem acreditaria em mim? Eu mesma mal acreditava. Até aquela noite.
Mal tinha cochilado quando algo pressionou minha barriga por dentro. Não foi um chute normal. Foi… inteligente. Deliberado. Quase como se estivesse tentando chamar minha atenção. Sentei-me, ofegante, com as mãos voando para a barriga. Então ouvi de novo.
A voz de Tari. Dentro da minha cabeça.
“Não tenha medo, querida. Eu escolhi você.”
Gritei e pulei da cama. Olhei para minha barriga no espelho, levantando a blusa. Eu podia jurar que vi um tênue pulso de luz azul logo abaixo da minha pele. Ele piscou e depois desapareceu. Meus joelhos fraquejaram. Caí no chão, soluçando.
No dia seguinte, me forcei a ir ao hospital. Contei ao médico que tinha engravidado depois da consulta do meu namorado. Menti sobre a data do parto. Menti sobre tudo, exceto sobre os sintomas. “Sonhos estranhos. Pele brilhante. Conversando com alguém que não está lá.”
A expressão do médico mudou lentamente de preocupação para uma suspeita silenciosa.
“Faremos alguns exames”, disse ela, cautelosa. “O estresse pode fazer coisas estranhas com a mente, especialmente quando combinado com os hormônios da gravidez.”
Ela pressionou o estetoscópio contra minha barriga. Seu rosto congelou.
“Não consigo… ouvir um batimento cardíaco. Mas algo está se movendo.”
Ela pediu um exame. Enquanto eu estava deitada na cama fria de metal, o rosto da técnica empalideceu. Ela continuou ajustando o scanner. Não falou nada até eu perguntar o que estava errado.
“Há um feto”, sussurrou. “Mas está… brilhando.”
Saí do hospital sem esperar pelos resultados. Naquela noite, tive outro sonho. Tari estava em nosso antigo lugar perto da lagoa, a brisa farfalhando seu moletom.
“Nosso filho não é como os outros”, disse ele, com a voz mais suave que o vento. “Ele é eu… e é mais.”
“Como assim?”, perguntei.
Mas ele apenas sorriu tristemente. “Você vai entender logo. Mas precisa protegê-lo.”
Acordei e encontrei as cortinas abertas, embora eu tivesse trancado tudo. O moletom que Tari usava no sonho estava dobrado cuidadosamente na beira da minha cama. Toquei nele. Ainda quente.
Eu soube então — o que quer que estivesse crescendo dentro de mim era real. Era dele. E estava me mudando.
No dia seguinte, finalmente liguei para Adesuwa. Eu precisava de ajuda. Ela correu, me abraçando forte. Contei tudo a ela. Mostrei a mancha brilhante na minha barriga. Contei sobre os sonhos, a voz, o bebê.
Ela não riu.
Ela não gritou.
Ela sussurrou: “Preciso te levar a algum lugar.”
Eu a segui até um velho bangalô escondido atrás da igreja de sua avó. Lá dentro, havia uma senhora idosa com longas tranças grisalhas e olhos claros. Ela me olhou e disse:
“Você não é a primeira. Mas deve ser a última.”
Perguntei o que ela queria dizer, mas sua resposta me arrepiou.
“Você está carregando o filho de uma alma acorrentada. Aquele bebê é uma bênção… e um aviso. O pai dele não deveria ter voltado. Agora aquela porta está aberta. E outros estão vindo.”
“Para levá-lo?”, perguntei.
“Para levar você.”
De repente, as luzes piscaram. Uma brisa fria soprou pelas janelas. E das sombras… ouvi a voz de Tari novamente.
“Corra.”
O quarto ficou gelado. Os olhos da senhora se arregalaram enquanto as sombras se aprofundavam, estendendo-se artificialmente pelas paredes como garras. “Ele está aqui”, ela sussurrou, segurando um rosário feito de búzios e osso. Adesuwa me puxou para trás dela. Mas eu não estava com medo. Não mais. Não de Tari. Eram os outros que eu temia agora. Aqueles que a velha disse que viriam porque ele quebrou as regras.
Ela espalhou cinzas em um círculo e me disse para ficar dentro. “Não saia, não importa o que aconteça. Está me ouvindo?”, ela me alertou. “Você é uma ponte agora. Entre a vida e a morte. E pontes podem ser cruzadas nos dois sentidos.”
Entrei no círculo. Minha barriga brilhava com a mesma luz sinistra. O bebê chutou, mais forte do que nunca. E então, ouvi as vozes. Dezenas. Talvez centenas. Gritando. Gemendo. Implorando. Rindo. Todas vindas da escuridão.
“Tari, por favor”, sussurrei. “O que está acontecendo?”
Então eu o vi.
Mas ele não era como antes. Seus olhos estavam vazios, cheios de tristeza e medo. “Desculpe”, disse ele. “Eu não queria te arrastar para isso. Eu só… senti tanto a sua falta. Eu queria mais uma noite. Mais um momento. Eu não sabia que estava abrindo um portal.”
Aproximei-me, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto. “Por que eu? Por que o bebê?”
Ele olhou para minha barriga, depois para mim. “Porque o nosso amor era mais forte que a morte. Mas um amor tão forte… quebra as leis.”
De repente, algo mais surgiu das sombras. Uma figura retorcida e monstruosa com metade do rosto e olhos flamejantes. Sibilou ao me ver. Tari estava entre nós. “Você não pode tê-la!”, rugiu ele. “Você não pode levar o nosso filho!”
O monstro riu. “Você quebrou a regra, espírito. Você tocou os vivos. Agora nós festejamos.”
O quarto tremeu. A velha começou a entoar um cântico em uma língua estranha. Adesuwa agarrou minha mão, chorando. “Simi! Não saia do círculo!”,
gritei quando o monstro se lançou para frente. Tari o agarrou no ar. A velha gritou: “AGORA! Escolha, garota! Vida ou amor!”
Tari se virou para mim, ensanguentada e sumindo. “Você tem que me deixar ir, querida. Pelo nosso filho. Por você.”
Solucei, balançando a cabeça. “Não posso te perder de novo!”
“Você nunca me perdeu. Eu vivo nele agora. Em você. Mas se você se segurar… eles vão levar tudo.”
As luzes explodiram. O chão rachou. As sombras uivaram. E com toda a dor no meu coração, gritei seu nome e disse adeus.
No momento em que o fiz… ele sorriu. E desapareceu.
A escuridão recuou. O monstro gritou e se dissolveu em fumaça. O silêncio caiu.
Eu desabei. O círculo escureceu. E o bebê dentro de mim… chutou uma vez. Depois duas. Então descansou.
Nove meses depois, dei à luz um menino. Ele não chorou como os outros bebês. Ele apenas olhou nos meus olhos, quieto e calmo, como se soubesse de tudo. Sua pele brilha fracamente no escuro. E às vezes, quando canto para ele à noite, juro que ouço uma segunda voz harmonizando com a minha — a voz de Tari.
Dei ao nosso filho o nome de Tarioluwa, que significa que Tari pertence a Deus. Porque ele nunca foi verdadeiramente meu.
Mas ele me deu um último presente antes de partir.
Um pedaço dele… que nenhuma sombra jamais poderá tirar.
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